segunda-feira, 17 de maio de 2010

Rain

Foto-João Ferraz

Rain


Célia Pires

A chuva é tão forte que preciso parar, pois vai se formando uma 'cortina' sobre meus olhos me impedindo de ver. Então, paro. Fecho os olhos para que os grossos pingos não maltratem a minha visão, mas 'enxergo' mesmo assim: as lembranças me conduzem de volta ao passado, enquanto isso, a chuva vai molhando sem distinção nem preconceitos a velha, a menina, o homem que esqueceu o guarda-chuva em casa. Molha os barracos e mansões, mas não molha e nem abranda a seca de dores, que se instala toda vez que chove.Tento me livrar das lembranças abrindo os olhos, tateando os muros. Não adianta e a chuva, indiferente não consegue apagar esse incêndio de desencanto que tantas rachaduras provocou no meu coração, tão ressequido de saudades.
Para mim a chuva ressuscita revoltas, pedras de angústias, areia de rancores e restos de esperanças que não trazem você de volta para meus braços.
Apoiado numa das paredes qualquer de uma das lojas da cidade, vou observando a chuva cair sobre os telhados das casas, molhando janelas, embaçando as vidraças. Toco em meu rosto e percebo que não há lágrimas.Nem de esperança. Essa chuva não pode, infelizmente, trazer de volta o amor, o meu amor, razão de meu viver, e acabar com essa seca que transformou em deserto o meu coração...

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