segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Sentidos

Foto-João Ferraz


Sentido
s

Célia Pires

Pedir para minimizar o monumental sentimento que me invade é algo absolutamente cruel, vai além, muito além das minhas parcas forças. É como mostrar a cruz a um vampiro!Negar água a alguém sedento no deserto!É dizer a beata que não existe um Deus!
A minha queixa é você me impedir de ser gueixa!Para mim não tem sentido esconder tantos sentidos e o louco desejo de te ter próximo ao olfato, de ouvir a sua voz,exercitando a audição; usar o tato decorando seus contornos, te experimentar saciando o meu paladar e ter a mais linda visão ao te ver.
Sem esses sentidos a vida para mim não é sentida e perde todo o sentido....

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Da janela lateral


Foto-João Ferraz



Da janela lateral


Célia Pires
Parece que tem um visgo que me prende aqui nesse lugar, uma espécie de areia movediça que me envolve com suas mãos invisiveis e não consigo me libertar, sair dessa janela lateral. Espero, pacientemente, a cada dia surgir o entardecer com seu sol 'morno' e, assim, permanecer olhando lá fora, sim lá da janela lateral, de onde posso vislumbrar uma réstia de luz, com a qual quero fazer o mais belo vestido dourado para te encantar. Te conquistar. Queria que você me fizesse sair dessa penumbra, me curar dessa triste doença chamada solidão.Mas você não passa aqui por perto.
Quero ao sair, vestida de luz, nunca mais ouvir o meu choro abafado, imperceptivel aos que me rodeiam, mas tão alto e ensurdecedor aos meus próprios ouvidos. Quem dera o tempo se congelasse, enquanto eu estivesse espiando lateralmente por essa espécie de cela , impedindo que o sol não se escondesse, e que o céu não fosse tingido de um cinza quase negro,mesmo que eu fosse perder o brilho das incontáveis estrelas, que embora numerosas não me aquecem e nem me fazem companhia.
Ninguém pode entender o que é se alimentar de bocados de calor do sol. Ninguém sabe que esse calor me infla como um balão que visita paisagens longínquas e seca na fonte, lágrimas que se arrebentariam num pranto funebre, sem esperanças.
Ninguém sabe que espiando esse pôr do sol através de uma simples janela esqueço por um infimo momento a dor de ser ímpar. Nesse esperado e mágico entardecer tudo é pra mim: plantas, flores, caminho, o vento macio que me chega como um carinho quase humano, me afagando como uma mão afavel. Até mesmo as paredes toscas são minhas e me fazem compreender que faço parte desse barro com o qual foi construída e quase destruída!
Percebo que se alguém pudesse ler esses meus pensamentos me rotulariam de louca. Mas é porque não sabem que a minha dor vai além da compreensão de qualquer um. Ela está mergulhada num rio escuro e profundo, onde todas as noites são sem luar e que meu coração só consegue um pouco de alento quando posso olhar o sol através da janela lateral, da janela lateral....

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Vertigem do tempo

Foto-João Ferraz

Vertigem do tempo


Célia Pires
Muitas vezes ao passar, o tempo nos joga sal nas feridas nos causando triste vertigem. E como dói ver a juventude fugindo na calada da noite como um animal feroz, que ao partir deixa marcas profundas na pele, cavando sulcos parecidos com terra arida.
Mas, se não soubermos envelhecer com dignidade, essa vertigem nos tonteia e nos apaga os sorrisos, nos oprime o peito nos impedindo de ver as lindas paisagens, que independente da idade, se oferecem sedutoras para também fazerem parte do baú de nossas memórias.
A cada dia devemos pé ante pé, bem de mansinho, guardar um pouco de alegria conquistada para quando chegar o tempo em que o veu da vaidade for brutalmente arrancado. Para podermos apanhar pequenas porções dessa alegria e nos entregarmos a essa vertigem do tempo, não mais impregnada de uma salgada tristeza, de uma ilusão de momento, de uma sensação de falta de equilíbrio no espaço, como se todos os objetos girassem sinistramente à nossa volta, mas uma vertigem daquelas que surgem quando ficamos em pé em um local muito alto, como se tivessemos chegado ao topo de nós mesmos e não lamentássemos o tempo que passou, ao contrário: contaríamos cada degrau vencido dessa grande escada que é a vida e não temeríamos nenhuma vertigem, nem a do tempo, nem a do tempo...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Juvenal Antena



Foto-João Ferraz
"Juvenal Antena"


Célia Pires


Definir a vida?!
Nem sempre quando estamos travando uma batalha nos damos conta de que, naquele momento, esta tinha algum sentido ou não. Só depois é que vamos ter essa percepção. Isso quando a temos! Um amigo diz que na sua filosofia de vida aprendeu que existem dois tipos de felicidade, a absoluta e a relativa.
Na minha filosofia, felicidade é felicidade, ou seja, contentamento, satisfação,alegria intensa ou simplesmente paz de espirito!Muitas vezes, não nos damos conta de que aquele momento vivido por nós iria daqui a algum tempo ser chamado de felicidade.A vida é indefinida e uma incognita! Graças a Deus!
É quase impossivel vivermos como um "Juvenal Antena" :com os sentidos ligados 24 horas por dia. Claro que temos nosso sexto sentido, nossas intuições, as experiências vivenciadas que nos ensinam que devemos traçar metas, definir objetivos, mas também aprendemos que a vida não é um pacote fechado. Podemos burlar o destino, superar aquilo que ninguém acreditava ser possível. Sim podemos passar do estágio de simples lagartas a lindas borboletas!
Para mim, vitória é ao menos ter tentado, pois, muitas vezes, as circunstâncias nos desviam dos caminhos traçados e não há nada que possamos fazer para que aquele momento volte para o consertarmos. O superamos, mas não o consertamos.Podemos até fazer gambiarra, mas uma vez solta, a mola do tempo não tem conserto.
Certo, que como diz uma frase do saudoso Chico Xavier, embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo....qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim".Para mim isso é a verdadeira superação e vitória:ter essa coragem para recomeçar!Sempre, de novo e de novo!
Certo, também, que não devemos agir de maneira precipitada em nossa vida para não nos arrependermos depois, mas e se o momento exigir? Se for aquela decisão do tipo: agora ou nunca? E ai, não vai pagar pra ver?
É, percebe que a vida não é como uma receita definida de bolo?
Discordo do meu amigo quando ele diz que o pessimismo coletivo que presenciamos no cenário global atualmente nasce da falta de definição e que o homem moderno concentra todas as suas energias naquilo que ele não quer, quando deveria fazer o contrário.
Para mim, o homem moderno ou o nem tanto, concentra sim todas as suas energias, ou pelo menos grande parte dela naquilo que quer. Desesperadamente e a tal ponto que não mede, muitas vezes,esforços e as consequencias de seus atos: passa rasteira nos colegas de trabalho, faz fofoquinha para ganhar pontinhos com o chefe e até frequenta lugares que detesta só para estar 'in' e não 'out'. Porque quer estar no topo.Vivem plenamente o darwinismo acreditando que estarem no cume faz parte da tal seleção natural, da evolução da especie. Mas nós podemos observar, que como disse o filosofo Tomaz Hobbes em sua celebre frase, que o homem é o lobo do homem. Mas ultimamente dizem que o homem é o lobo do lobo do lobo do homem!Complicado hein!?
Ele ressalta que os problemas pessoais são oriundos da nossa forma bitolada de encontrar uma solução e que, muitas vezes, não percebemos que para toda ação é desencadeada uma reação.
Sim, concordo que à toda ação corresponde a mesma intensidade, mesma direção e em sentido contrário.A lei de Newton é dura, pois quantas vezes não fomos meras borboletas nos batendo de frente com um caminhão? Ação e reação brava essa onde quem sai esmagado é a gente!
Mas o que é ter uma forma bitolada de encontrar uma solução?Qual a fórmula correta se, nesse mundo somos ao mesmo tempo mestres e meros aprendizes? Qual a receita de definição?
Claro que devemos definir nossos objetivos na vida. "Precisamos de definição lembrem-se disto!" ele diz, mas eu digo que já está definido que nascemos e morreremos. Eu pergunto: como vamos definir o que vai nos acontecer nesse intervalo de nascer e morrer?
O mundo é muito complexo para que possamos fazer gestão da gente mesmo.Não somos uma empresa pura e simplesmente,se bem que alguns pensem o contrário. Somos seres humanos e não podemos nos esquecer disso. Somos falíveis, passíveis de erros. Posso estar errada nessa opinião que estou dando. Mas...
Muitas vezes, travamos muitas lutas e meu amigo afirma que precisamos definir o que que vamos fazer na vida,mas indago que se tivermos absolutamente tudo definido poderá haver dias em que decidiremos que não vamos querer levantar da cama, sem saber que no caminho poderíamos ter encontrado aquele amigo que não viamos há anos, ou quem sabe encontrar sem querer uma grande paixão, pois o grande barato da vida é esse: ser uma caixinha de surpresas, sim,de surpresas...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

João,,,O de Barro

Foto-João Ferraz

João...O de Barro

Célia Pires

Muitas vezes, fizeram cortes tão profundos em sua alma que, embora os pontos estejam firmes e cicatrizados, até hoje sente o repuxar dos remendos, da costura feita às pressas para não perder mais nada que subtraisse e esvaisse a esperança.
Pensou que nunca mais fosse alçar vôo. Precisou mergulhar em si mesmo e buscar nas profundezas de seu ser ainda um pouco do barro dessa esperança para se reconstruir e seguir. Buscou outros ninhos, conheceu o bater de outras asas, o canto de outros pássaros, até perceber que queria era encontrar o seu próprio ninho,'forjar' seu próprio barro, bater as suas próprias asas e ouvir novamente o seu próprio canto, que por conta da desilusão ficou preso, abafado, sufocado numa lama de dor!
Embora,ainda viva algumas noites de lua sem magia, de céu sem estrelas, não deseja mais esse vôo triste, que é esse de voar sozinho!
Ás vezes, se pergunta porque deixou tanta coisa triste juntar dentro de si.Como deixou emudecer seu canto de alegria? Mas acredita que foi acontecendo aos poucos e um belo dia os fragmentos se juntaram formando uma pedra de dor, derrubando o ninho que não imaginava frágil.
Mas não aceita esse peso, pois exige a leveza da felicidade.
Luta a cada dia para fazer essa dor levantar ancora ou afundar de vez, mas não a quer pra si. Não quer viver abraçado a ela.Quer asas que possam abrigá- lotodo dia. Não quer mais fechar para sempre nenhum outro ninho.Quer voltar a cantar em dueto, tremular as asas de puro extase.
Não quer nunca mais passar pelo áspero estreito caminho da desilusão.Não quer mais tempestades pesando as asas. Quer céu azul.
Quer sorrisos e fartas gargalhadas.
Quer contentamento.
Quer afeto e a doce punição de amar alguém todo dia.
Precisa confessar sem medo a sua verdade, a que a dor vem desaparecendo, pois está amando, a que cobiça um bem querer, que quer se embriagar desse amor até cair. Até ser lançado a um mundo que lhe aguce os sentidos, que o lance ao belo espetáculo de um vôo de prazer, que o faça derreter como uma vela única numa noite escura. Sim, quer desesperadamente se refugiar num ninho, seu ninho, e beber do néctar dessa tal felicidade até cair de 'trebado'. Sem direito a glicose na veia...


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Poesia de passagem

Célia Pires


Luz
LuminosoBrilhante
Esse não saber que é um ser feito de luz o faz inseguro,tímido,
a ponto de querer empreender fuga de si mesmo. Muitas vezes se sente como um cão vira-lata precisando de proteção, de um pouco de ração que poderia chegar em forma de lentos afagos.O coração é um jardim pisado como uma poesia de passagem. Mas ele disfarça distribuindo sorrisos como quem acabou de colher flores frescas do jardim de si mesmo.
Ele quer ser feliz. Só precisa saber como!
A saudade de um certo colo macio e morno o corroi, mas o tempo não volta atrás.
Mas as palavras doces, o esforçado carinho estão guardados para sempre dentro de uma preciosa caixa. Quando a dor vem de forma aguda ele a abre. Brinca com as recordações que servem de alento e o faz ter forças para prosseguir.
Será que dúvidas nunca o assaltam? Não, pois é a própria dúvida!
O olhar, por vezes se perde num horizonte sem fim, mas volta para não se perder em si mesmo, de si mesmo.
É ainda um menino num corpo de homem. Ainda precisava(e precisa) muito daquele carinho quando os laços foram dolorosamente cortados. A sangue frio. Nunca mais o som daquela voz que ficou impressa na memória, o sabor daquele casto beijo!
Os doces que consome vão direto para aquele local amargo, amenizando um infimo da dor que sente.
Tem tanto para fazer, mas, às vezes, o desejo de somente deitar e se deixar ficar é mais forte.
Sabe que precisa superar muitas coisas, mas as coisas a serem superadas, muitas vezes são a sua melhor companhia, pois resgatam um passado onde tudo parece ser mais bonito e feliz, pois ela ainda vivia!
Ás vezes, parece um pouco louco, mas é ainda um ser inocente que se recusa a ser corrompido pelo que quer que seja.
Ainda desconhece onde vai chegar percorrendo essa estrada onde quase não se permite nada. Os encontros com algumas pessoas a quem considera especiais o fazem se encher de alegria, se sente querido. De verdade e com verdade!
Parece teimar em não crescer ao mesmo tempo que quer ser adulto e dono de sua própria história, de seu próprio destino.
Mas esse doce menino, vestido de adulto responsável, parece desconhecer que a felicidade não precisa estar em lugares longinquos, ela pode estar bem ali ao alcance das mãos. Ele precisa com urgência urgentíssima entender que a felicidade não está em não fazer e, sim em simplesmente ser e deixar brilhar aquilo do que é feito: LUZ, sim feito de luz....