segunda-feira, 9 de agosto de 2010

João,,,O de Barro

Foto-João Ferraz

João...O de Barro

Célia Pires

Muitas vezes, fizeram cortes tão profundos em sua alma que, embora os pontos estejam firmes e cicatrizados, até hoje sente o repuxar dos remendos, da costura feita às pressas para não perder mais nada que subtraisse e esvaisse a esperança.
Pensou que nunca mais fosse alçar vôo. Precisou mergulhar em si mesmo e buscar nas profundezas de seu ser ainda um pouco do barro dessa esperança para se reconstruir e seguir. Buscou outros ninhos, conheceu o bater de outras asas, o canto de outros pássaros, até perceber que queria era encontrar o seu próprio ninho,'forjar' seu próprio barro, bater as suas próprias asas e ouvir novamente o seu próprio canto, que por conta da desilusão ficou preso, abafado, sufocado numa lama de dor!
Embora,ainda viva algumas noites de lua sem magia, de céu sem estrelas, não deseja mais esse vôo triste, que é esse de voar sozinho!
Ás vezes, se pergunta porque deixou tanta coisa triste juntar dentro de si.Como deixou emudecer seu canto de alegria? Mas acredita que foi acontecendo aos poucos e um belo dia os fragmentos se juntaram formando uma pedra de dor, derrubando o ninho que não imaginava frágil.
Mas não aceita esse peso, pois exige a leveza da felicidade.
Luta a cada dia para fazer essa dor levantar ancora ou afundar de vez, mas não a quer pra si. Não quer viver abraçado a ela.Quer asas que possam abrigá- lotodo dia. Não quer mais fechar para sempre nenhum outro ninho.Quer voltar a cantar em dueto, tremular as asas de puro extase.
Não quer nunca mais passar pelo áspero estreito caminho da desilusão.Não quer mais tempestades pesando as asas. Quer céu azul.
Quer sorrisos e fartas gargalhadas.
Quer contentamento.
Quer afeto e a doce punição de amar alguém todo dia.
Precisa confessar sem medo a sua verdade, a que a dor vem desaparecendo, pois está amando, a que cobiça um bem querer, que quer se embriagar desse amor até cair. Até ser lançado a um mundo que lhe aguce os sentidos, que o lance ao belo espetáculo de um vôo de prazer, que o faça derreter como uma vela única numa noite escura. Sim, quer desesperadamente se refugiar num ninho, seu ninho, e beber do néctar dessa tal felicidade até cair de 'trebado'. Sem direito a glicose na veia...


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