segunda-feira, 21 de dezembro de 2009



Mãe, obrigada pela meia!

Célia Pires

Quando eu era pequena, na época de Natal, minha mãe me dizia que se eu pendurasse uma meia na janela, quando Papai Noel passasse na noite do dia 25 deixaria ali o presente pedido por mim. Sempre acreditei, pois minha mãe não iria mentir para mim.
A verdade é que assim que eu acordava na manhã do aniversário do Menino Jesus nem escovava os dentes ou lavava o rosto. A primeira coisa era correr até onde estava a tal meia. O coração apertado pela ansiedade. O medo de não encontrar ali o objeto do meu desejo. Mas lá estava.Sempre estava.
Lembro do sorriso largo que se formava no rosto de mamãe. Se felicidade tinha expressão, pode ter certeza, ali estava.Depois de muito tempo, quando minha mãe já havia falecido é que descobri que o presente no interior da meia era colocado por ela.
Com medo que eu sofresse, pois era filha única, nunca me deixou sem aquele mimo. Às vezes era uma boneca, outras vezes uma roupinha. Mas nunca a meia ficou vazia.
Como não tinha parentes na cidade em que morávamos, era muito difícil para ela, que com coragem decidiu me criar sozinha, pois era mãe solteira.
Também muito mais tarde fiquei sabendo que ela para adquirir o presente pedido por mim, fazia vários bicos. “Você minha princesa merece tudo”, ela me dizia carinhosa.No nosso simples lar nunca faltou o maior dos presentes: o amor. E não foi por que ela sofreu uma decepção, um abandono, que me passou algum amargo da vida. Não. Nossos dias eram doces como laranjas maduras. Como o mais puro mel de abelha.
Agradeço cada presente, pois soube que embora com afeto e amor exigiu dela sacrifícios.
Por isso meu desejo de Natal, se eu tivesse o poder de pedir um milagre, seria o de tê-la por mais alguns momentos junto a mim e poder lhe dizer: mãe, você que sempre se deu inteira, obrigada pela meia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009






Lindeza Dourada
Célia Pires
Repousa nas profundezas de sua alma certa melancolia que se não ficar atenta lhe rouba um pedaço de sua alegria, o que bastaria para balançar as águas calmas de seu ser tão sensível a ofensas, ao desprezo, embora saiba rir de tudo isso, perdoar e seguir em frente.
Sabe que não é fácil ser personal de si mesma, pois muitas vezes quando deveria ir para o sul vai para o norte e vice-versa, numa caminhada solitária, mas cheia de si mesma.
Alguém um dia lhe chamou de lindeza dourada.
E talvez, talvez,tenha sido chamada assim pejorativamente, pois sabe não ser linda. Com isso, começa a sentir o crescer dessa melancolia, que se ela permitir, se instala comodamente no sofá de sua sala mais intima: seu coração!
Então utiliza sua melhor arma e bani com suas sonoras e libertadoras gargalhadas qualquer tristeza que queira roubar seu bem mais precioso, a alegria.
Se lembra feliz que nasceu sob o signo do Sol e se esquece do que a vida real lhe nega. Adormece e sonha um sonho tão belo, mas tão belo que deseja nunca mais acordar, pois está num lugar onde todas as cores são respeitadas, mas lindeza mesmo, só a dourada!