domingo, 28 de novembro de 2010

A russa grávida


Obra do pintor Marcelo Accarini
http://www.accarinifinearts.blogspot.com.br/


"A russa grávida"

Célia Pires

No olhar de águas claras, a majestade cristalizada.
Nobre.
Inata.
Altiva.
E em águas uterinas e 'russeificadas' a geração de um novo ser.
Gesta o instante. Gestante!
Será novo um Nabokov? Tolstoi? Dostoievski?
Um Yaschin. Uma Sharapova?Não importa.
Desde que no ‘dia da vitória’ venha ao mundo um(a) nobre e saudável 'camarada'...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Rio de Janeiro


"Rio de Janeiro"

Célia Pires
Maculando de vermelho toda a verde beleza, a bala ainda tonta, perdida e descontrolada só diminui e cessa quando se sente abrigada.
E assim aconchegada desconhece a triste verdade de que para alguém não mais haverá a redenção do Cristo,nem o açúcar do Pão, os fogos do Reveillon, o gingado malemolente do Carnaval.
Sem futebol.Sem Maracanã!
Sem samba. Das escolas
Sem praias. De Copacabana!
Sem mais o caminhar pela Cidade Maravilhosa!
Não mais o gozo de ver as ondas quebrando na praia.Só a rota para o desconhecido....para o desconhecido...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Canibal

Eu te amo
O que acontece entre você e eu não se entende.
Sente-se.
Sinto-me derreter
Você me deixa louca
Você me cativa a cada
momento da minha vida
Me sinto
febril
Eu quero você por inteiro
Quero sentir seu cheiro
Te devorar até que nada mais reste a não ser a vontade de te devorar de novo, de novo e de novo ...










domingo, 21 de novembro de 2010

Holambra


Obra do pintor Marcelo Accarini
http://www.accarinifinearts.blogspot.com/


"Holambra"

Célia Pires
Fim da II Guerra Mundial. Devastação.
Sem rumo, só resta partir para onde ainda haja novas esperanças.
Holandeses empacotam sonhos.Migram.
1949.Chegam. A vida nova tem nome e sobrenome: Brasil.Estado de São Paulo. Fazenda Ribeirão.
Ali é o começo, a semente do que viria ser.... a Cidade das flores!
1991.Semente germinada:Holanda, América e Brasil: Holambra
Acróstico que traduz a gratidão por poder desempacotar os sonhos de ter por entre flores um pedaço de sua terra,a Holanda...

sábado, 20 de novembro de 2010

Além

Imagem de João Ferraz
http://www.jooferraz.wordpress.com/


Além

Célia Pires

A Lua, às vezes, me surge como uma imensa hóstia me convidando a comungar de seus mistérios que estão além, muito além de minha compreensão! .
A Lua também me chega, talvez de dentro das sombras, recortando a escuridão, parecendo que embebida em embriagante melancolia.
Apavora-me com sua face marmórea, quase sepulcral.
E antes de me afagar com sua paz me lança em tormentos...
Tentar dominar as lembranças é como tentar apagar cada estrela ‘pintada’ no céu. Está além das minhas forças!
Minha conta é louca: o sofrimento não diminui. Só se multiplica...
Mas a Lua que parecia tão longínqua parece romper o espaço e diminuir a distância. Parece me fazer pensar que encontrar o interruptor para acender a luz da esperança nem sempre é tarefa fácil, mas não impossível, e que a chave de tudo é o amor, que vence todas as barreiras e vai além do além... e mais além...

O banco

Imagem de João Ferraz

O banco

Célia Pires

Eu banco a forte muralha
Mas por dentro me desfaço em ruínas
O sorriso desfeito, a alegria escassa
A cada encontro eu tremia de emoção.Com emoção.
Momentos de glória, pois ali estava você,no banco. Única testemunha do amor que me atacava à queima roupa.
Um dia e mais outro e outro... a ausência
O banco vazio de você...
Mas a cada dia as velas da esperança ardem dentro de mim.
A cada dia chego no horário do encontro. Banco a teimosa, banco a insuportável solidão, mas não chego a me sentar. Fico na espreita esperando que a qualquer momento você se materialize naquele banco...

Grão



Imagem de João Ferraz

Grão


Célia Pires

" E ai? ". Frase monótona, de um tom só.
Mas que traz em si mil perguntas, cuja
resposta está dentro de si mesmo, embora ele ainda não saiba.
Qual o caminho quando ele quer empreender fuga de si mesmo? Quando deserta e subverte seus próprios sentimentos?
Sim,uma simples sentença como “e ai?” se transforma num manifesto, cuja verdade absoluta está encerrada em si mesmo, em si mesmo...
Como um grão que lançado ao solo tem o compromisso de germinar, de frutificar e amadurecer o verde fruto do amor, e se não o faz transforma-se num desertor, desertificando a terra que num ato de fúria lhe devolve a inquietante e dolorosa pergunta : “e ai?”

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Rio de Janeiro

Obra do pintor Marcelo Accarini
http://www.accarinifinearts.blogspot.com/
“Rio de Janeiro”
Célia Pires

Me apaixono à primeira vista...à segunda, à terceira vista, e todas as vezes que te olho. No teu solo, afagada por tanta beleza não me sinto estrangeira.Me sinto carioca.Abraçada por seu Redentor,alimentada por seu Pão de Açúcar!
Mergulho de cabeça em suas matas e florestas, no seu requebrado único, no local onde ecoam memoráveis gritos de gol. Mergulho em suas convidativas e sedutoras rotas...
Leviano,depois de me cativar, apaga meus rastros da areia...
Mas gravei seus belos traços.Pra sempre. Lindo de comover, ás vezes de doer pela violência que te impõem...
Você aportou em minh’alma ou minh’alma foi que aportou em ti? Que me importa? Te amo. Te amo e te amo!
Rio de alegria e choro de saudade.Meu Rio de Janeiro! Meu mágico Rio de todos os meses!De todas as ‘gentes’.
Queria ser só por um momento essa bela paisagem banhada por seu mar, pois como dizia o compositor “o mar quando quebra na praia é bonito, é bonito...”


Quer comprar?



Obra do pintor Marcelo Accarini
http://www.accarinifinearts.blogspot.com/


Quer comprar?

Célia Pires
1983. Avenida Portugal.Araraquara. São Paulo.Brasil.
O menino posta seu cavalete em frente a casa e começa a pintar.
Naquele momento o pincel era como uma pipa em suas mãos desenhando os contornos da casa no céu da tela. Os sonhos de menino ainda engatinhando, povoado de lúdicas cores.
De repente, uma senhora o tira do enlevo atrapalhando a concentração. Embora ela elogie o quadro que se forma, ele quer ‘caminhar’ só. E como não era bobo, para se livrar atacou o lado sírio-libanês da referida:
-Quer comprar?
Resultado: Pintou tranquilamente a tarde inteira!
Indelevel, esse fato ficou arquivado na galeria da memória.
Muito tempo se passou.Outras ‘senhoras’ apareceram em outras épocas, em outras avenidas atropelando e atrapalhando a sua concentração, mas o menino nunca desistiu de soltar pipas e encher de cor o branco céu de uma tela..

sábado, 13 de novembro de 2010

Clarice Lispector




Obra do pintor Marcelo Accarini



"Clarice Lispector”

Célia Pires

Dezembro. 1920. Ucrânia: nasce Haia.
1922. Brasil: renasce Clarice.
Lispector. Lis no peito. Flor de Lis: Clarice Lispector. Ucrano-brasilica.
Judia. Judiada...
Verdadeira. Se deixava ser...
Maternal.
Instigante.
Tímida.
Ousada.
Foi Teresa Quadros. Helen Palmer.Ghost-writen de Ilka Soares.
Nada de meios termos.
Os olhos eslavos,oblíquos, guardiões de seu templo enigmático e misterioso.Secreto.
O alimento, a palavra,sempre a palavra, seu domínio sobre o mundo!A felicidade clandestina!
Uma ‘sentidora’. Uma escritora.Jornalista.Ela mesma uma clareciana.
No confessionário de si mesma nada revela.Misteriosa.
A ilusória passividade no olhar.
Guerreira travando batalha contra si mesma. Regurgita emoções contraditórias. Conflitos domésticos e interiores.O mundo caótico dentro si é cercado por uma incomensurável melancolia e angustia, mas ela é profundamente humana. As lágrimas suspensas em enigmático brilho mostram fragmentos daquilo que lhe vai por dentro: miséria existencial.
É como se tivesse de atalaia para se proteger do bote da dor.
E magicamente, do aparente chão árido de si mesma, brotam flores em forma de poemas , de romances,de notícias de jornal.Prêmios!
Na calada da noite, ao dormir com o ’companheiro’ aceso sente-se incendiar.O fogo a marcou.Cicatrizes na alma, na pele.Mais tristeza e solidão.
Sem palavras para novas vertigens e delírios sente se morrer. Perto do coração selvagem...Quer reflorestar o deserto de si mesma, mas está com as mãos vazias de sementes!
Dezembro. 1977. Um mal maior a consome.
Natural e sobrenatural dizia que entende-la não era uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.
De repente ouve um sino tocar incessantemente. Dobram por ela. Chegou a hora da estrela...

domingo, 7 de novembro de 2010

Duende


Imagem de João Ferraz


Duende


Célia Pires


Não sou só um mito.

Acredite!

Sou elemental, elementar...

Alegre

Amo a música. A dança.A Vida!

Bagunceiro até não poder, só permito que me

veja
aqueles que ainda trazem a criança que foi dentro de si

Mentira que engano os homens com meu falso ouro.Eu os protejo, quando permitem, de sua própria ganância.

Se quiser me encontrar é facil:na densa floresta de seu coração.Se caminhar desprovidado das maldades humanas vai me encontrar. Sou guardião de um pote no final do arco-iris,pote esse cheio de uma riqueza chamada amor. Para pegá-lo, basta acreditar em mim!

Você acredita em Duendes?

sábado, 6 de novembro de 2010

Quase...

Imagem de João Ferraz

Quase...
Célia Pires
Catapultada a um mundo mágico,
descubro que posso me permitir tudo:pecar sem pedir perdão!
Ser livre ou escrava.Mas sei que antes de cativa, estou cativada...
Confessar e realizar os desejos mais recônditos.
Sem cobranças.
Buscar o céu e achar.
Não resistir e ainda colocar mais lenha no fogo que me consome.
Mas na queda descubro que cai no campo dos sonhos.
Mas não ouso ultrapassar o portal da realidade, pois sei que a verdade pode me despedaçar em milhares de fragmentos de dor.
Ter esses momentos me nutre de luz .
Ilusão?
Sonho?
Que me importa?Se é assim que posso ter você?
Catapultada a esse mundo mágico descubro que quase posso ser feliz assim, quase...

D. Bosco. Ramos Mejia. Buenos Aires(Argentina)

Obra do pintor Marcelo Accarini
http://www.accarinifinearts.blogspot.com/

D.Bosco. Ramos Mejia. Buenos Aires
(ARGENTINA)

Célia pires
Imponente ‘la tierra’ de Ramos Mejia.
Intensa, a pérola do oeste.Rara jóia.
Argentina tão atraente que impele a conhecer as suas formas,seu conteúdo. Sua geografia.Sua história.
E no meio de tanta beleza um ‘bosque’.Salesiano
Com ‘matas templárias’ pra se aprender até a orar.
Surpreendente, ‘la ciudad’ guarda um dom.Bosco...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Brotas II

Obra do pintor Marcelo Accarini
www.accarinifinearts.blogspot.com

Brotas II

Célia Pires
Quem dera pudesse possuir uma voz que ao brotar de mim penetrasse seu coração,como as suas areias cantantes penetram no meu, pois que me causas encantamento.
Quem dera possuir uma voz que traduzisse
toda a poesia que há em mim, mas mesmo assim
descaradamente te canto em verso e prosa,pois para mim tu es encanto.Canto.Só o meu coração sabe de ti.Canto. Desafinada,com afinada paixão, pois brotas em mim aos borbotões.Sentimentos crus, limpidos, ainda sem a mácula da dura realidade. Feito mata selvagem.
No poema que hora brota, me permito escrever a minha verdade: canto porque descobri que tu existe...
E 'tu' brotas e cresces a cada dia dentro de mim. Vertiginosamente. Descontroladamente. E a cada momento vai descortinando e ressuscitando lindos versos de antigas canções guardadas e adormecidas até chegares... e tu chegaste!

Eros e Psique

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Brotas

Obra do pintor Marcelo Accarini
http://www.accarinifinearts.blogspot.com/


"Brotas”


Célia Pires
Valei-mei Nossa Senhora das Brotas!
Livra-me do peso da dor, pois mesmo sem bagagem
parece que carrego o mundo nos doridos ombros.
Quero a poesia que brota de sua areia cantante.
A esperança apontando em cada trilha que eu passar.
Desejo seu clima tropical,a energia das cachoeiras que brotam do seio de sua terra.
Quero a aventura de seus rios. A sua natureza em mim...
Com toda força não desejo mais conjugar a minha dor.Fazei-me um milagre: 'brotas' em mim as suas flores do amor,do amor...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Capa de CD

Foto-João Carlos/Star Fotos


'Capa de CD

Célia Pires
O sorriso nos olhos ficou pra sempre congelado.
A infância de volta: a cantoria da meninice
faz tudo ficar absurdamente suave.

Sem máscaras, encenam e eternizam
um perfeito e intenso recorte da alegria.
Vestidos com a luz do dia,
compõem um belo verso de um poema chamado vida
e se eternizam no livro da memória...


Reflexões sobre a vaidade

Foto-Fernanda Pires


Reflexões sobre a vaidade

Caminhar por sonhos é muito mais seguro do que pisar em ovos. Mas a vida não é somente sonhos e nem somente ovos. Tudo depende da escolha,pois sempre se pode fazer uma pausa para se preparar algumas omeletes.
Graças a Deus que cada um é cada um e não o que gostaríamos que fossem.Vivemos num mundo de exibicionismos fisicos e intelectuais, ambos exacerbados,por isso quando pessoas com alguma sensibildade nos chamam a atenção queremos atrai-la para nossa teia,beber,comungar um pouco de seu raro vinho, mas às vezes,estamos desprovidos de taças...
Acredito que não devemos brigar com a realidade e trocá-la por nossas idéias, pois que criamos sem notar uma armadilha e pior, nós que caimos nela.
Mas nunca se conhece verdadeiramente um ser humano se não vasculharmos a sua alma, pois muitas vezes, sem perceber, colocamos grossas camadas de pintura em cima de nosso próprio quadro, desrespeitando a técnica e passando por cima do talento em nome dessas vaidades humanas.
Infelizmente não há respostas prontas de como lidar com cada ser humano,pois que cada um é um universo particular e construtor de sua própria obra...

Saramago




Obra do pintor Marcelo Accarini



"Saramago"


Célia Pires

O velho mestre português caminhava livre. Sem ponto final, só vírgulas...
A curiosidade diante de um mundo, quase sempre injusto fez com que lançasse mão de sua ‘pena’em ensaios, romances, crônicas, poemas como armas combativas...
Sendo um guerreiro literato. Um questionador dessa ainda incógnita existência humana milita pelas causas sociais: livros e livros. Fantásticos e espetaculares livros!!!!!!
Com a pena vieram os problemas, mas também a consagração: o mestre dos mestres!
Simples na explicação do significado de seu sobrenome, José dizia que seu pai contava que Saramago é uma florzinha silvestre que nasce nos escombros e que isso evitava
o trabalho de procurar pseudônimos."
Na Bagagem do Viajante que dizia que sem idéias não se vai à parte alguma havia muitas ‘peças’ de realismo, alegorismo e até satirismo.
Em seu ferrenho ateísmo dizia que com a morte tudo se acabava aqui.Estava errado.Ele partiu, mas ficou: o velho mestre português continua caminhando livre.Sem ponto final, só vírgulas...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os pampas

Obra do pintor Marcelo Accarini

"Os pampas"

Célia Pires

Os pampas: campos sulinos ou uma região da Argentina?
Tanto faz.
Quem quer saber de história quando,que como ela,se espera um cavaleiro que chegue 'navegando' nesse imenso mar verde e a ame às ‘pampas’, nos pampas?