quinta-feira, 27 de maio de 2010

Kiko,o Mágico

Foto- João Ferraz


Kiko, o mágico



Célia Pires


Ele te conduz a mundos inusitados, inimaginaveis
Pinta o Sete, o OITO e até o NOVE ...
Um mágico que faz
desaparecer tristezas e coloca alegria em nossos corações. A treva ganha luz. Inquietação vira paz.De espirito. Um abafador de agonias que nos remete com suas cores a um mundo onde não é permitida a tristeza e se a saudade chega ela é bem vinda, pois foi pintada com doces cores, de sabor nostalgia.
São pinceladas de tintas raras, pois contêm amor, dedicação. Não são borrões ao vento. Arte pura. Pura arte.
Muita gente não percebe, mas ele nos ensina grandes lições. Olha lá o pintor. Olha lá o artista que nos aconselha a não falsear a realidade e ao mesmo tempo a não destruir os sonhos.
Será que esse mágico sabe que ao retratar o belo está retratando a si mesmo, externando com tintas sobre a tela toda a beleza que existe dentro de si mesmo, dentro de si mesmo. ..

terça-feira, 25 de maio de 2010

Pérolas e sol


Foto-João Ferraz


Pérolas e sol

Célia Pires

Minha saudosa mãe me ensinou a nunca desistir.
A sempre lutar e se preciso for bater com força nas barreiras que as pessoas tentam impor para destruir nossos sonhos.
Hoje entendo que ela em sua infinita sabedoria me deu o que podemos chamar de um grande e inestimavel tesouro: pérolas ao sol. Sim, pérolas e sol...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Escandalosamente escancaradas



Foto-João Ferraz

Escandalosamente escancaradas


Célia Pires


Ah, que pena, solidão! Meu coração, um pavilhão tão vazio que quase ouço ecoar o mantra da minha vida: cadê você? cadê você? cadê vocêêêê...?
Nesta vida a Alegria quase não me visita não!Minha face ficou dura por não saber mais sorrir!
A tristeza, quase como uma companheira, chega de mansinho, se instala numa poltrona do meu despovoado mundo e sabe que sua presença já não me incomoda e nem machuca mais.
Pensei estar fazendo a coisa certa.Boicotei a mim mesma fingindo indiferença e nessa tola brincadeira de sentimentos, achei que você iria me notar. Mas você levou a sério. Foi embora para nunca mais voltar...
Ficou só o sonho e a febre que não passa de sentir os seus lábios roçando os meus, nem que fosse por um segundo; ficou o desejo de fazer cafuné em seus cabelos, mergulhar em sua maciez, onde o tempo temperou alguns fios com prata; ficou você aqui por inteiro dentro de mim!Aprisionado nesta loucura de sentimentos tão hermeticamente fechados e que cresce a cada dia que até tenho medo de explodir.
Mas alguém me disse que se a felicidade um dia bater em nossa porta não devemos ignorá-la.Por isso se um dia, como por um milagre, você voltar, vai encontrar as portas abertas, ou melhor, escandalosamente escancaradas...

Caça

Foto-João Ferraz
Caça


Célia Pires


Cansada de armafanhar os lençóis, espero o tiro de misericórdia. Mas antes devo lutar bravamente contigo. Rolar. Abraçar. Beijar. Gritar. Mas não resisto às suas armas de sedução. Confesso:também quero ser caçadora. Por fim, caçamos um ao outro. Presos aos desejos. Nos devoramos. Saciados, já não nos importa quem foi caça, quem foi caçador...

Alma


Foto- João Ferraz

Alma

(Um coração árido)


Célia Pires


Não sabia definir porque se sentia tão sozinho, com um aperto no peito 'espremendo' o coração doente pela solidão. Muitas vezes tentou achar a razão, pensou que talvez fosse pela infância, sofrida, sem ninguém para dar-lhe atenção: só chicote da vida açoitando a pele frágil e infantil.
Lembrava-se dos rios que corriam soltos ' convidando' a dar mergulhos e mergulhos e ele na enxada, capinando terra, calejando as mãos, arrancando mato ao mesmo tempo em que ia deixando ficar estéril os terrenos de seu coração.
Não sabia ao certo de onde viera, nem quem eram seus verdadeiros pais, por isso essa sina de viver infeliz.
O Sol a pique, a mata verdejante, as frutas estourando de madura, sumarentas, os passarinhos cantando bonito nas manhãs(não dava para ficar prestando atenção e ouvir) tanta coisa bonita pra se ver, pra se sentir e provar, e ele tinha que trabalhar.
Quantos anos tinha nessa época de menino? Onde trabalhava? Não sabia.Mas hoje já era um homem.
Cresceu como crescem as plantas que se vergam ao vento, mas que se levantam e ficam novamente eretas.
Recordou-se dos maus tratos e rápido apagou as más lembranças. De que adiantaria sofrer pelos anos passados? Segurou as lágrimas. Chorar para quê? Mas a dor ainda lhe espremia o coração.
Sentia um impulso muito forte de sair correndo e como por mágica, transformar-se num outro ser, que não fosse ele próprio. Um ser que tivesse pai, mãe, irmãos, uma porção de gente para se comemorar os aniversários, pra se sentir saudade e até mesmo para se chorar a morte!
Pára de pensar e tenta adivinhar quantos anos tem. Pega um espelho e vê o que na realidade era: alto, a ponto de se sentir um espeto querendo furar o céu, magro, de uma elegância tal que era quase uma aberração para os modos rudes de vida por qual passara que poderia estar vestido com farrapos que a elegância seria a mesma, uns cabelos negros, que o Sol não conseguiu avermelhar, uns olhos de perdição numa cara de menino, de um azul que podiam fazer a gente sonhar.
Mas dava a impressão de possuir uma certa timidez, como se a beleza assim bruta e em demasia o envergonhasse, como se o fizesse esquecer que a beleza de alguma forma também ajuda a cativar.
Larga o espelho. Seu problema era por dentro: se sentia árido, seco.
Mas não queria viver assim pra sempre, queria descobrir coisas muito além do seu pequeno mundo, de sua vida monótona, sempre repetindo a mesma dor, sempre feita só de solidão.
Queria construir para si um nome, um nome bom e agradável de se ouvir.
Precisava urgentemente encontrar uma saída, mudar de vida, aquela angústia o oprimia, quase o dilacerava. Não ia mais conseguir viver assim.
Quem sabe se não começasse a frequentar os bailes do sítio vizinho não arrumava o amor de alguma morena fogosa?
Lembrou-se de que que quando era criança, as pessoas diziam que ver uma estrela cadente dava sorte, era só fazer os pedidos enquanto ela(estrela) caia.
Já começava a anoitecer, pega uma cadeira, põe do lado de fora da casa e começa a fitar a céu..
.

Resumido


Foto-João Ferraz



"Resumido"

Célia Pires
Estende as mãos calejadas que trazem em cada nódulo formado um pouco de sua história. Quanta coisa já tinha feito para chegar a este estado deplorável?Muita gente o olhava como se fosse um lixo ambulante, outras desviavam de sua pessoa com medo, temerosas.
Mas, cheio de dor ele se perguntava: será que essa gente 'perfeita' que o olhava como se fosse feito de merda sabia o que havia passado? Sabia de sua dor lancinante? Sabia da armadilha que ele havia caido?
Sim, ele já havia sido alguém importante e por um falso amor acabou na sarjeta. Deu tudo o que a ninfeta queria. Tratava como se fosse um bibelo. A carne fresca, jovial o atraiam como abelha no mel.Enloqueceu, fez e aconteceu. Só enxergou a si mesmo. Não pensou no balanço da empresa, no salário dos funcionários, na escola dos filhos, na dedicação da esposa. Em nada. Nada. Ela, tão jovenzinha sabia exigir como gente grande. Ele abria imensuradamente os bolsos até que só restaram poucas moedas. Falência múltipla dos órgãos: do bolso ao coração!
Sem o 'faz me rir' ela o abandonou e ele nunca mais a ouviu chamá-lo de 'meu lindo', 'meu fofinho'.Coisas que alimentavam sua sindrome de Peter Pan, que preservava o potente predador. Engraçado,ela nunca mais sentir, reclamar a sua falta.
Tarde demais ele compreendeu que não foi por conta da idade de ambos. Foi por conta do jogo, da troca. Ela entregava a juventude e, ele a segurança. Em sua cabeça, a experiência sexual e de vida estavam na contabilidade, sem contar o seu charme. Foi um se enganou meu bem. Era uma paixão de mão única. Só ele amava.Ela gastava esse amor.
Certo que o amor não tem idade, mas ele é muito mais do que satisfazer caprichos.
Quando acordou estava só. Só.Ai se lembrou da companheira de tantos anos, doeu se lembrar de seu silêncio sem acusações. Só constatações. Doeu ao receber a notícia da falência de sua empresa.Doeu ver os filhos terem que sair da escola particular, mas nada doeu tanto como o fato de ter se enganado achando que era amor, o que na verdade era paixão, empolgação. Preço alto. Alto preço por um prazer que acreditava que iria sentir eternamente.
Sem saida, pois todos que antes o alertaram e ele não deu ouvidos se afastaram,sem alternativa, sem dinheiro, falido, foi embora.
Era agora um homem 'resumido' de sua história, um andarilho sem destino como tantos e tantos outros.
As moedas que sobraram da conta, depois de tantos anos ainda estavam num dos bolsos da calça já rota e carcomida pelo tempo.
Certo dia, ao passar por uma fonte, se lembra da história de que desejos poderiam ser atendidos se jogasse algumas moedas na fonte. Faz os pedidos. Assim, vai jogando as últimas moedas. Restos de esperança. Aposta em cada uma delas um sonho.Quando termina fica olhando seu reflexo na àgua da fonte. Vê um rosto transtornado.Transformado.Tenta abrir um sorriso, mas a dureza provocada pela dor não lhe permite. Grita desesperadamente e o som inunda sua alma e invade a calmaria sepulcral do local.
Meu Deus, o que lhe resta fazer?Errou sim, mas o Senhor não perdoa seus filhos? Não oferece uma outra chance? Pede um sinal divino. Junta o que sobrou dos andrajos de sua dignidade e segue. Qualquer rumo serve. De repente, sente algo molhando seu rosto. Chuva?Não. Lágrimas.Chora seu remorso, chora sua dor, seu desespero.Lava a alma. Tenta enxugar o rosto com as mãos, mas as palmas estão tão sujas e as unhas tão grandes que lhe ferem a pele.
Sente que as moedas que jogou já deram início a um milagre e sente no fundo do peito que ainda pode recomeçar. Que não precisa ser um homem resumido e que pode novamente ampliar a sua história.Qualquer rumo não lhe serve mais, pois agora sabe qual caminho a seguir: o caminho ao encontro de si mesmo...

No passado


Foto-João Ferraz
No passado
Célia Pires
Saudade. Saudade. Os sentimentos empoeirados, o coração amarrotado afronta a esperança...
A fartura de seus beijos empobreceu. Porque? Cadê sua fúria me tomando? Me fazendo acreditar que o gozo seria eterno?Ah! Cadê o mel que eu buscava e encontrava em sua boca?
Nunca imaginei que um dia a alegria seria dispersa.Que a tristeza faria sua morada!
Nunca imaginei que um dia a Lua se apagaria do meu céu e que o Sol esfriaria, esfriaria.
Que vontade de me ver novamente em seu olhar. Que vontade de te apertar nos meus braços e te dizer fica aqui pelo amor de Deus! Porque você está me deixando? Naquele momento da partida queria ter gritado fica aqui minha vida, mas a voz não saiu.O que consegui? Morrer estando viva? O sangue que corria pelas minhas veias parece ter gelado minha alma. Congelado a vontade e o poder de amar outra vez. O vulcão sempre em erupção ficou adormecido. O que era sempre doce se amargou. Culpa de quem?Ninguém consertou os planos, só deitou nos panos macios dos lençóis. Catapultados somente ao ápice do prazer esquecemos que a vida continua fora da cama. Esquecemos de nos comprometer, de ver a beleza da tarde e de nos molharmos nas chuvas de verão. Só pegamos as gripes e os resfriados. Esquecemos de alimentar com amor o Amor.
Desgovernados de nós mesmos, nós apartamos. Sofremos tanto em vão!
E hoje tristemente me pergunto aonde está a tal felicidade? e uma vozinha chamada ilusão me responde: no passado, no passado...
mas a realidade me alerta e me diz: no presente, no presente....

sábado, 22 de maio de 2010

Urbanidades


Foto-João Ferraz
URBANIDADES
Célia Pires
Queria chegar e te encontrar como se o momento tivesse sido congelado desde a última vez que nos vimos.
Mas as cadeiras estão tristemente vazias. Nada do recorte do seu bonito perfil.
Nada de pinceladas de esperança.
Somente o vazio das cadeiras que outrora foram ocupadas por nós dois.
Mas volto sempre a este lugar. Meu holocausto.
E quando chego penso que vou me derreter de horror, me debater diante da desgraça da solidão, mas não, nem isso me é permitido por essas urbanidades que extraem toda a poesia, que embotam os sentidos e nos livra do impacto da dor, tão feio o cenário que não oferece acalento e parece repetir: fuja!Fuja!!
Obedeço e como um louco procuro um lugar onde a simplicidade me acolha e me faça redescobrir o que é ter um coração, um coração...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Alien


"Alien"

Célia Pires


O que parece arrogância é a máscara para minha insegurança.
Temendo me ferir me fecho em copas.Isso quase sempre me aparta das pessoas que consideram minha postura 'seca', exageradamente prepotente.
Desconhecem minhas fragilidades, meu grande medo de ver perfurada a redoma tão bem construída em torno de minha nave e enchê-la novamente de dores, de infortunios,pesadelos.Ali é onde posso me refugiar, onde nunca vou parecer ridiculo aos olhos de ninguém. Ali é meu espaço onde posso ver a aurora boreal.
Pensa que é fácil ser diferente? Pensa que não é doloroso ser a todo momento chamado de esquisito?Não é fácil ser só...dentro de seu próprio planeta. Viver com as lágrimas constantemente represadas com medo de que ao primeiro dissabor desaguem destruindo a sua fortaleza tão bem construída?Pareço ridiculo? Não ligo.
Fiquei sabendo que há outros iguais a mim.Raros, mas existem.Andam no meio da multidão como se fossem um deles, por isso dificil reconhece-los.
Uma dúvida me assombra e me persegue: quando foi que tudo mudou?Será que foi na "Era da Inversão de Valores" quando o certo era o errado e o errado era certo? Ou será que foi na "Era da Promiscuidade" quando ninguém era de ninguém e até as crianças eram assediadas? Não consigo me lembrar, mas o homem brincou muito como se o planeta fosse um grande parque de diversões.Mudou o curso da roda gigante, destruiu carrosséis,errou no tiro ao alvo alvejando inocentes,conseguiu acabar com o trem assustando os fantasmas . Acabou com a brincadeira...
E sem brinquedos começou a destruir a si próprio.Quem sobrou virou praticamente um animal feroz lutando por migalhas para matar a fome.
Para me proteger me tornei um Alien no meu próprio planeta.Por isso minha postura seca, meu modo diferente de ser.Auto Proteção. Ninguém ataca o que parece ser o mais forte.
Mas ainda não desisti. Procuro outros iguais a mim e quando encontrar, espero que tenhamos um recomeço: quero me despir dessa feia armadura de arrogância e viver novamente uma vida onde os sorrisos brotem espontaneamente, onde o amor renasça e que Alien seja somente alguém que veio de outro planeta!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Blue

Foto-João Ferraz



BLUE
Célia Pires
Com o blue esquecemos desencantos
Tingimos nossa vida de alegria
Esquecemos capítulos de desesperanças
Surge a vontade de afagar com mãos leves e macias o nosso bem querer e querer ainda mais que o mundo se torne blue para sempre!
Mas o mundo é multicor e o blue apenas mais uma das muitas nuances que tingem o mundo como esse fosse um tecido diáfano, daqueles que nos dá vontade de afundar em lençóis macios sem tempo para a razão. Só para sentir na boca todo o blue como se este fosse um confeito dos deuses, cujo sabor sentimos no coração de tão bom!
Quero esse blue. Quero essa mágica que consegue manter acesa a minha alegria e torna blue tudo ao meu redor simplesmente blue...simplesmente blue...

Castle


Foto-João Ferraz

CASTLE

Célia Pires
O castelo sonhado ficou assim: flutuando num mundo de doces sonhos.
Sem vocação para alpinista não consegui escalar o muro e observar o que havia no seu quintal.
Então fantasiei e nesse mundo de sonhos esse castelo construi. Ali você existia. Ali você era meu. Meu! Meu e Meu.
Nenhuma seta trespassaria de dor meu coração, além da que o Cupido já havia atirado com sua flecha certeira. E mergulhada em ilusões vivi. Durante muito e muito tempo a despeito da sua querência.
Me vestia de dourado, me exibia para você que sorria sempre. Ali eu era a sua princesa. Única. Querida. A bem amada.
Mas um dia a realidade bateu bem forte em minha porta. Ruiu com meu castelo de sonhos.
Mas havia tamanha sinceridade naquela verdade que aceitei: O Principe não era Encantado. Meu castelo era de ilusão!!!
Mas antes que eu pudesse chorar, antes que eu desse vazão ás magoas reprimidas, antes de me lançar ao abismo da dor... sinto um olhar sobre mim. Não vejo um Rei ou Principe, mas um sudito e aos 'pés' do meu coração.
Quase não acreditei!!!!
Desci do pedestal de sonhos. Abandonei o castelo. Escalei o muro e observei de perto o seu quintal. Gostei do que vi. Deixei a idéia de ser Princesa de lado e aceitei meu destino: ser simplesmente uma mulher amada por um simples homem.
E nessa simplicidade esse homem me fez Rainha, a sua Rainha...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cidadão do mundo



Foto-João Ferraz


Cidadão do Mundo


Célia Pires


O braço a torcer era sempre o meu.
Tentava sempre plantar e colher amor, mendingando atenção. A sua atenção!
Mas nenhuma ternura era dispensada comigo. Eu mesmo estava endurecendo a cada dia
Tive que buscar nas profundezas do meu ser a coragem para recomeçar. Renascer.
Aprendi com certa dor que relacionamentos devem ser abençoados. Antes de ser fiel ao outro devemos ser leal conosco mesmo.
As mãos estendidas em sua direção muitas vezes ficaram pendendo, pendentes no ar. Sem retorno de um carinho. Prá que isso meu Deus? Pra que? Eu que sempre quis a sua mão entrelaçada com a minha. Nunca me senti tão sozinho estando ao seu lado. Tão só. Tão só...
Você era uma idéia fixa. Mas descobri antes que você virasse uma doença. Uma obsessão.
Mas também aprendi que existe uma saida para tudo na vida. Livre arbitrio.
Para que me colocar numa encruzilhada se sei que caminho devo seguir?
Quero encontrar a mim mesmo na próxima esquina. Não um estranho marcado pelo ocaso, pela dor do acaso.
Assim escolho o melhor caminho: o meu!
Atendo aos anseios de minh'alma.Quero ser feliz. De verdade!
Retiro lentamente o véu da ilusão.
De repente, me vejo, frente a frente com as porteiras do Destino. Estão abertas. Escancaradas
Saio. Nem olho para trás.Me sinto livre. Sem amarras. Um cidadão do mundo e sinto me atingir com toda força um amor completo que até então desconhecia: o amor por mim mesmo, por mim mesmo...

A Rocha

(Imagem de Paulo RkSp Rideaki)


A Rocha

Célia Pires
Quantas vezes nos sentimos como se uma imensa rocha pairasse sobre nossas cabeças?
Sem querer e sem percebermos, muitas vezes,deixamos os problemas se transformarem em enormes pedras que ganham vida própria e se lançam sobre nós como monstros que querem nos devorar a esperança, a força de vontade. Mas digo que não podemos nos deixar vencer. Precisamos aprender a transpor essas pedras que surgem em nossos caminhos, a vencer os obstáculos e barreiras que a vida nos cria.
Temos que aprender depressa que, em certos momentos ou em muitos deles, ou mesmo diariamente precisamos de acalento, de carinho, de um colo morno e macio, de alguém que nos passe a mão por nossos cabelos e acaricie. Cafuné.
Precisamos de lábios de algodão. Doce.
Precisamos aprender a não deixar juntar poeiras de dores e sofrimentos, de magoas e tristezas, de derrotas e frustrações que juntas formam essa grande pedra, essa imensa rocha que teima em pairar sobre nossas cabeças...

Fractal

(Imagem de Paulo RkSp Rideaki)

Fractal

Célia Pires
Sensações. Quebradas. Fracionadas e ao mesmo tempo tão inteiras!
Hipotéticas.Interativas e ao mesmo tempo solitárias.
Ilusórias.
Mas que mexem comigo: tudo parece girar à minha volta.
Mas tudo acontece dentro de mim.
Como um caleidoscópio interno.Girando e girando!!!
Sentimentos angulosos. Gulosos. Ávidos por entender aonde vai me levar essa ciranda docemente colorida. Arredondada. Transmutável:estática e ao mesmo tempo em constante movimento. Controversa. Controvérsias...
Quanto mais me aprofundo, quanto mais observo mais hipnotizada fico e mergulho mesmo sem querer num mundo morno, onde se eu quiser posso imperiosamente deixar para trás dores e dissabores e me afogar em cores que me trazem felicidade, felicidade...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Duo



Foto-João Ferraz


"DUO"

Célia Pires


Pensa que é fácil ter que sufocar um amor tão grande, que chega a 'transbordar' pelos meus olhos denunciando aquilo que sinto?
Os dias vão se arrastando e junto com o sentimento tão bonito vai crescendo uma feia erva daninha chamada desesperança que vai me enlouquecendo, transformando meus sonhos em pesadelos.
Por que eu não soube fazer com que você 'mergulhasse' na profundidade do meu olhar? Pois ali iria ser invadido pela minha louca paixão, mas no momento em que você me olhou a emoção foi tanta que fechei os olhos e o instante se perdeu, mas você ficou gravado em mim. A imagem eternizada no mais profundo do meu ser.
Quando te vi , pensei brincando comigo mesma: esse é o cobertor para os meus dias frios, o refresco para os dias de calor. Mas com vergonha não falei com medo de que você não gostasse da brincadeira.Talvez tenha te perdido mais uma vez.
Lembro de você a todo instante. Fantasio, mas logo caio em mim me machucando nas rampas de uma realidade que ainda não consegui subir.
Como te quero pra mim, ás vezes, aliás, muitas vezes,faço algo para chamar sua atenção. Meto os pés pelas mãos, mas não me arrependo. Um dia ainda vou ter a felicidade de ver você chegando e ficando, ter o imenso prazer de formar um duo com você...

Agonia



Foto-João Ferraz


"Agonia"


Sinto o rasgar do meu coração que se queixa e se queixa de mágoa de amor e me condena por ter sido gueixa, servil, escrava de uma paixão quase doentia, mas não me arrependo, pois acredito que não podemos e nem devemos viver com os sentimentos embaçados. Precisamos limpar as vidraças,mesmo que mais tarde essa transparência nos cegue de dor.
Se não tentarmos como saber?
Fisgados, muitas vezes, não dispomos de armas para lutar contra o que acreditamos ser amor
Só quando vem a agonia lancinante e nos lança ao abismo da dor é que vamos cair em nós. Mas ai já é tarde.
Juntar os cacos da dor parece ser uma tarefa ardua demais, melancólica demais,mas é preciso.
Certo que muitas vezes ao jogarmos a ancora pensamos ser aquela a embarcação definitiva e tristemente naufragamos.Naufragamos.
Lutamos bravamente para não nos afogarmos. Mesmo e ainda assim não devemos desistir nunca do amor, por mais trágico e grave que tenha sido o relacionamento anterior. A única certeza desses sentimentos que nos provocam dor e agonia é de que não era amor, não era amor...

Magia


Foto-João Ferraz
"Magia"
Célia Pires
Posso embarcar nessa nau? Meu coração perguntava. Meu bom senso respondia: não e não.
Mas seduzida pela magia embarquei. Cruzei oceanos de prazer. No balanço da embarcação acabei de perder o resto da razão. Enlouqueci. Gritei. Gemi. De pura paixão!
Oscilante nesse desconhecido mar e cada vez mais envolvida naquela gostosa magia me deixei levar pelo vento que me fazia até chorar...de alegria, de contentamento e tudo foi ficando para trás: tristezas, agonias, sofrimentos. Só existia a deliciosa magia.
Não quis voltar não.Só sinto saudade da igual magia daquele pôr do sol. Não carecia pisar em terra firme. Nunca mais.
Agora pergunto ao meu coração: posso desembarcar dessa nau? Ele já tomado por essa infindavel magia me responde: não e não... não e não...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sonha na janela

Foto-João Ferraz

(Gente) "Sonha na janela"


Célia Pires

A felicidade pode ser traduzida em coisas simples como uma rede que nos embale
Noites sem espantos
Uma 'doce' casa sem frescuras.
Um bule fumegante de café
Biscoitos fresquinhos
Uma boa música
Um bom livro na cabeceira
Comidinha simples e gostosa
Um cansaço 'bom' depois do dever cumprido
A companhia dos amigos
A familia reunida
Mas tudo isso só vai estar completo se você estiver ao meu lado me ajudando a encher e a carregar a nossa mala de sonhos
Tudo isso só vai ter valor quando eu chegar ao final do dia e ver você me esperando na janela, 'vigiando' e velando meus passos, com um sorriso, cheio de alivio por eu ter voltado da jornada sã e salva e como se fosse um anjo me fazer sentir seu roçar de asas macias, seu roçar de asas macias...

Davi e Golias


Foto-João Ferraz


Davi e Golias (O Encontro)

Capaz de avistar sua 'presa' a dezenas de metros de altura, mas se esta estiver dando bobeira nas proximidades, então já era: mergulha diretamente sobre ela, que indefesa, acaba sucumbindo ao seu charme.
Quando se dá conta o coração de sua presa já está dominado, derrubado por uma simples pedrinha denominada paixão.
E esse 'Davi' não teme tamanho, não teme nada. Só quer sentir o prazer da conquista.
Poderoso, ganha sua mais nova vítima quando a faz experimentar o delicioso néctar da paixão. A luta começa.Cometem loucuras, despetalam flores.Se movimentam ao compasso do doce vento. Já os sentimentos criam vida e o que parecia terminar numa tragédia infernal culmina no paraíso.
'Golias', alegoria de um bela mulher foi vencida pela paixão,está 'derrubada' nas 'pétalas' armafanhadas dos lençóis, mas quando percebe que o belo Davi novamente está pronto para uma nova batalha, ela se entrega à luta...sem defesas, indefesa...

Fila

Foto-João Ferraz
"Fila"
Célia Pires
Esse mundo é uma grande viagem. Mundo competitivo, onde a regra geral é dizer: a fila anda.E essa fila anda quer dizer que você não precisa ficar investindo em amores, pois se uma pessoa não te quiser tem outra logo à frente, do lado ou atrás. Fila engraçada essa. Fragmentada, onde ninguém acaba se dando por inteiro. Na primeira brecha, lá está o cidadão ou a cidadã dando mole como se diz na giria. Todo mundo acha que está ganhando.Mas quem é certo, quem é errado? Não me cabe julgar ninguém.
Só sei que são 'Amores' sem fermento, pois não têm tempo de crescer. 'Amor' risco zero, pois ninguém se compromete.
Mas sou avessa a filas. Não gosto de ficar às tontas. Meu coração não te encontrou na fila. Único, você caminhava só na contramão em busca de um espaço onde pudesse espanar a poeira da estrada, onde pudesse sentir sempre na mesma boca o doce mel da paixão.
Nesse descaminho nos encontramos.Ficamos.
Construímos nosso ninho e nele descobrimos como é traduzir as palavras em gestos de amor e enquanto a fila anda lá fora, o mundo pára pra nós... prá nós...

Soldadinho


Foto-João Ferraz


"Soldadinho"
Célia Pires
Marcha numa ronda quase solitária. Embora cansado não desiste da missão de defender a sua casa, o seu lar, a Natureza.
Quantas vezes quase não foi esmagado por predadores que não souberam apreciar a beleza do Sol depois da chuva? Que parecem desconhecer que a cada minuto a vida recomeça?
São tantas adversidades a enfrentar, mas corajoso, ele não abandona seu posto e com olhos atentos vai desobstruindo caminhos, retirando galhos para os peregrinos passarem em segurança. Sabe que não é grande, mas aprendeu que os pequenos também podem fazer a diferença. Sabe que sua maior arma é a paz. Ciente disso descobre que o amor pode tornar qualquer um gigante e o que é melhor: faz com que a gente se sinta maior por dentro. Assim munido de sua fé inabalavel, o Soldadinho continua sua ronda certo de que pode enfrentar qualquer batalha e de alguma forma fazer a diferença...

Rain

Foto-João Ferraz

Rain


Célia Pires

A chuva é tão forte que preciso parar, pois vai se formando uma 'cortina' sobre meus olhos me impedindo de ver. Então, paro. Fecho os olhos para que os grossos pingos não maltratem a minha visão, mas 'enxergo' mesmo assim: as lembranças me conduzem de volta ao passado, enquanto isso, a chuva vai molhando sem distinção nem preconceitos a velha, a menina, o homem que esqueceu o guarda-chuva em casa. Molha os barracos e mansões, mas não molha e nem abranda a seca de dores, que se instala toda vez que chove.Tento me livrar das lembranças abrindo os olhos, tateando os muros. Não adianta e a chuva, indiferente não consegue apagar esse incêndio de desencanto que tantas rachaduras provocou no meu coração, tão ressequido de saudades.
Para mim a chuva ressuscita revoltas, pedras de angústias, areia de rancores e restos de esperanças que não trazem você de volta para meus braços.
Apoiado numa das paredes qualquer de uma das lojas da cidade, vou observando a chuva cair sobre os telhados das casas, molhando janelas, embaçando as vidraças. Toco em meu rosto e percebo que não há lágrimas.Nem de esperança. Essa chuva não pode, infelizmente, trazer de volta o amor, o meu amor, razão de meu viver, e acabar com essa seca que transformou em deserto o meu coração...

Sedução

Foto-João Ferraz

Sedução

Não precisa dizer nada.
Basta a pressão
Da sua boca na minha
Dos seus dedos descobrindo meus caminhos
Basta me tomar de assalto com as armas da ternura
Basta me olhar com esse olhar de
algodão cheio de uma doce promessa
Basta me olhar com esse olhar de
abelha procurando o néctar da flor
Basta me olhar como se eu fosse a única estrela do seu céu, a única....a única...a única...

O árbitro
























Foto-João Ferraz

O árbitro


Célia Pires

Novamente entrei em campo.Decidido. Forte. Sem medo de fraquejar, mesmo as pernas tremendo ansiosas, mesmo as mãos se mostrando nervosas.
Treinei tanto as jogadas que supôs que nada daria errado. Era gol na certa.
Meu coração palpitava mergulhado na mais pura esperança.
Corri. Suei a camisa.
Aflito quase não passei a bola com medo de não conseguir chegar até a pequena área e te dizer tudo o que sinto.
Mas na afobação, trancei as pernas me desequilibrei levando comigo os concorrentes que também, queriam acabar com a solidão, jogadores de ilusão.
O árbitro da desilusão se lançou sobre mim. Não quis saber dos meus argumentos.Expulso fiquei com o coração nas mãos, partido, esperando ansioso a próxima partida para tentar numa jogada de mestre fazer um gol certeiro e gritar com toda a força do meu coração para toda torcida escutar e você ouvir: TEAMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!

No teu olhar


Foto-João Ferraz
No teu olhar...
Célia Pires
Vejo no teu olhar uma fuga à realidade, por muitas e muitas vezes, dolorosa.Inútil.
Um sorriso muitas vezes amargo, pois olhos também sorriem!
Mas no teu olhar também encontro uma luz que teima em não se apagar e é nela que me queimo, onde espero um dia viver sempre incadescente.
No teu olhar vejo uma chama que me desperta e convida sei lá para que: para sofrer ou amar!
Uma pressa nervosa que quando tento te encarar, você rapidamente desvia o teu olhar!
Mas mesmo assim te amo e te amo. Violento a sua resistência e insisto em olhar no teu olhar para ali ler qualquer coisa que me faça decifrar o que é você, o que traz no coração.
Mas você sempre escapa ao descerrar os olhos me impedindo de ler o que está escrito no teu olhar. Me entristeço. Me engano querendo acreditar que já vi amor, que já vi no seu olhar o mesmo amor. Mas será que a reciprocidade que vislumbrei não seria ilusão de ótica? Não queria e não quero me enganar. Quero seu olhar pra sempre me desnudando a alma para que veja que dentro de mim só existe você. Você.Mas você age como um cego aos meus sentimentos. Não me vê ou finge que não vê.Essa é a minha dor. Essa é a dor que você pode ver no meu olhar.
Mas não quero pra mim essa tragédia surda, muda.
É tão bonito quando se pode conjugar o verbo olhar: eu te olho e te vejo.Você me olha e me vê!
Confesso que ainda desejo encontrar no teu olhar, o mesmo amor do meu olhar, do meu olhar...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Visão

Foto- João Ferraz

"Visão"


Célia Pires

Minha visão está cada vez mais turva, pois hoje rolam as lágrimas de um sofredor. Perdi tanto.Aos poucos a minha memória vai se apagando e com ela as lembranças das pessoas que eu mais amava, mas sei que irão estar sempre no meu coração, pois o amor nunca se apaga. É indelevel. Infinito.
Tive uma grande paixão. Amei com todas as minhas forças, mas também perdi quem mais amava. Hoje não consigo me reintegrar. Novamente me entregar. Me sinto perdido dentro de minha própria selva. No entanto, estranhamente, me sinto enjaulado.
Queria tanto poder voltar a sorrir,a viver e não somente vegetar que é o que está acontecendo.Também queria ter vez, oportunidade, mas isso me é negado dentro do meu próprio ninho. Se sinto que meu coração tem amor, de que não sou má pessoa porque essa angústia que me domina, essa dor que me consome as entranhas? Preciso de respostas... Sei que tenho uma dose, ou melhor, litros de culpas na minha própria história: rasguei capitulos bonitos. Agora está difícil reescrever a minha própria história. Só soube usar a borracha...
Hoje fiquei com fome. Meu estomago não aceitou o alimento, mas no entanto devorei um livro que acabei de ganhar. Me fez bem. Alimentou minha alma.
Tenho uma pessoa amiga, que é como um anjo para mim. Mora no meu coração: Me tirou do Inferno!
Peço às forças divinas que me ajudem a viver, ou melhor, voltar a viver. Pode ter certeza que se tiver mais uma chance não vou decepcionar. Vou apostar todas as minhas fichas na esperança.Depositar toda minha confiança em mim mesmo e tentar acabar de vez com todo esse sofrimento. Estou cansado, mas muito cansado, que me vejam como um fracassado. Um derrotado!
Quero paz, amor e união, vitórias, mas está cada dia mais dificil. Ando desiludido comigo mesmo, mas tive uma Visão de que posso reverter essa situação.Depois disso,meu coração bate mais forte em busca da visão de felicidade....de felicidade!

Imaginário

Foto -João Ferraz


"Imaginário"
Célia Pires

Puxa, como demorou para que eu percebesse que você não foi feito pra mim: não se alegra ao me ver chegar, evita tocar meu rosto e me dar um simples beijo. Tudo para mim é não. Tudo o que faço ganha uma outra dimensão. Só que negativa.Você não é meu número como dizem na gíria. Nunca seremos arroz com feijão ou goiabada com queijo, mas não lamento, pois quero ver nos olhos de quem amo a paixão, apesar de todos os meus defeitos. Não quero sentir seus preconceitos. Só quero aconchego enquanto acaricio seu peito...
Por Deus, por que construimos castelos, por que nos embriagamos com um tom de voz um pouco mais aveludado? Será realmente amor aquilo que nos faz sofrer?Que nos remete ao frio covil da solidão que aos poucos vai minando. minando e minando a nossa autoconfiança?Guardei para você o meu melhor sorriso, minhas mãos prontas para te encherem de carinho, palavras doces pra sussurrar no seu ouvido. Tudo em vão. Desceu pelo ralo da indiferença!
Hoje tenho saudades do meu sorriso aberto.Trocaria toda essa tristeza por uma única gargalhada escandalosa que afugentasse toda essa angústia que "enferruja" a minha vontade de recomeçar. A espada de dor que me atravessa não é fruto de minha cabeça. Fiquei acorrentada à sua rejeição e não consigo alforria. O chicote do desencanto bate forte em minha alma. Estou exausta. Cansada de lutar contra esse sentimento que me arrasa. Vou me vergando como uma haste, mas algo lá no fundo de mim mesma não permite que eu esmoreça por completo, pois esse amor não é Imaginário nem virtual como você supõe, ele é real,infelizmente,verdadeiramente real...

Simples


Foto- João Ferraz

" Simples"

Célia Pires

Ás quatro horas da manhã o despertador toca. Meu Deus, prá que acordar tão cedo? Mas já era de costume, todo dia era assim. Toma um angu, restos da noite anterior. Café não havia. Enterra o chapéu na cabeça, passa a mão na testa para retirar o suor, mas nem isso!É tanta a seca e seca a pele, seca a esperança cansada de esperar.Contempla com tristeza toda a aridez, e seu coração se espreme em gotas de saudade.
Pensa que já não tinha ouvido falar em Ecologia? mas ali, a tal da Ecologia, nem o eco tinha chegado!Ali mesmo, naquele mundão esquecido, já tinha ouvido falar de legião de descamisados, de violência, roubos, sequestros, corrupção, assassinatos de crianças, de homens, sem teto, de menores abandonados, de maniacos para todos os gostos e até mesmo numa tal de Constituição.
Não pense você que não conhecia outros lugares, que não houvesse pisado outro chão. Já tinha dado muita marcha à ré na sua história. Foi testemunha de muito ato falho.
Se perdeu no mundo e agora estava ali perdido em si mesmo, com os olhos cravados na terra cheia de sulcos, tantos quantos haviam já em seu rosto.
Tinha percorrido terras e terras, mas em todas elas havia privilégios de casta, extremismos, divergências, a maioria poderosa de intocáveis que nunca aprendeu a dividir, e ele não teve opção. Não ia se adaptar a um mundo onde não havia sequer um pagador de promessas. Com a fé nocauteada, volta às raízes, mas o útero da terra não é mais o mesmo: também está seco.
Gritos e gritos lançou ao ar. mas ninguém escutou ou será que o ignoraram?De repente se dá conta que estava completamente sozinho, a situação crônica. Nem a doçura do canto de algum pássaro. Liga o radinho de pilha prá se distrair. Toca "Losing my religion". Deus o que será isto? Será que captou ondas de outros planetas? Cadê "Asa Branca"? Cadê Elba? A farinha, a rapadura? Cadê a voz do 'dono' do país?A barriga dói. Fome. Não tinha aprendido ainda a dissimulá-la.A única coisa que lhe lembrava comida eram as maças do rosto, pois até a barriga da perna está vazia.
Um dia, o vento trouxe pedaços de jornal. Leu. Assustou-se com o que viu. Nossa, o que é que estava acontecendo? A última vez que tinha tido notícias, parecia que o país ia melhorar: Brasil na Copa e um presidente com varinha de condão, disposto a fazer desaparecer todo o mal. Parecia coisa de filme, com mocinho e tudo?Mas, agora aquilo que estava vendo era uma imagem às avessas àquelas que coloriram no princípio. O país está na U.T.I. Será que alguns daqueles famosos transplantes não resolveriam?Desesperançado, rasga o já roto jornal e o espalha ao vento. Vento? Bem que tinha lido em algum lugar sobre os falsos profetas.
O dia já ia se encolhendo e ele só fizera pensar. Do fundo do seu coração, queria que as coisas melhorassem. Queria tirar a mordaça e gritar novamente: " água, pelo amor de Deus! Água! Mas a garganta continuava seca.
À noite vem e o envolve num abraço tão apertado que chega a sair lágrimas de seus olhos. Lagrimas, que embora escassas, molham seus lábios ressequidos.Ah! como gostaria de poder desejar o que quisesse. Ele colocaria o verde nos pastos, a água de volta nos rios e um mundo de esperança no coração daqueles que perderam a fé em si mesmos...Simples assim. Simples assim...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Fly


Foto-João Ferraz
Fly
Célia Pires
Percebo tarde demais que o meu raio de ação visual e emocional me impediram de alçar vôos mais altos, de me lançar ao mar imenso com medo de ter as asas molhadas e salgadas pela desilusão. Mas de que adiantou?O vento soprou assim mesmo.Impetuosamente. Furiosamente.
Lutei bravamente, a despeito da limitação do meu raio de ação. Ansiava por um lugar onde pudesse pousar em segurança, mas descubro que a vida é uma montanha- russa sem controle e que nem sempre posso aterrizar onde eu quiser.
Vou aos poucos aprendendo a voar. Vôos rasantes. Vôos altíssimos.E só paro quando um certo 'visgo'por um instante me impedem de voar e me deixo ficar, relaxo e sinto que posso compartilhar vôos, néctares e voar sem precisar de asas....

Luzes


Foto-João Ferraz
LUZES
Escurece, mas, de repente, algo se esclarece dentro de mim. Acabou o mistério: sinto acender o lugar mais sombrio que conhecia, meu coração.Dilacerado. Cansado de bater em vão por um alguém que o lançou à escuridão da solidão!
Sim algo o alumia agora e está cada vez mais forte, como um belo pôr do sol que vai aos poucos tingindo a tarde.
Sim, me invade uma felicidade macia que vai deslizando mansamente para dentro , acabando com as temidas sombras, me colocando num doce repouso. Descubro que agora sim é amor de verdade.
Como sei? Pelas luzes, pelas luzes....

Distante

Foto-João Ferraz


DISTANTE

O que será que povoa sua mente? Será que passeia por lugares distantes onde se pode brincar sem multiplicar o sofrimento?

Será que em seu mundo distante ganha pernas velozes e pode correr mais rápido do que o pensamento?

Em sua aparente serenidade será que há espaço para sonhos ou tudo é uma grande 'marcha' confusa? Os dias iguais as noites?

Muitas vezes, sem que a gente perceba também se torna distante. Mas doentes da alma e não do fisico, vamos nos esquecendo do perfume das flores, do brilho e da magia das estrelas, da doçura, da ternura, vamos nos esquecendo de como é o sussurrar de palavras que embora macias, arrepiam!

Distante, mas bem distantes, vamos perdendo o elo de comunicação com o outro e deixando que os pensamentos se tornem dolorosos. Vamos construindo tantos obstáculos em torno de nós que, de repente, nos transformamos numa ilha, sem percebermos, e lá do meio desse lugar que nos mesmos nos lançamos vamos acreditando que o outro é que está distante, que não fomos nós que, em algum momento, nos apartamos, que deixamos de compartilhar uma conversa, mesmo que banal, que deixamos de dar boas risadas de uma piada ruim. Não percebemos que fomos nós que transformamos o doce em amargo.

E nossa sala de visitas vai ficando sempre tão vazia. Onde estarão todos os meus amigos? Onde está você?Eu poderia ter te guardado dentro de mim, assim não sentiria frio, não sentiria frio e minha alma tão distante....

Alma de fósforo

























Foto-João Ferraz




Alma de fósforo


Célia Pires

Minha alma errante quer manter viva a chama, mas seu soco certeiro no meu ego não acredita no meu amor que é verdadeiro. Me nega.Me renega!
Não posso, não conseguirei prosseguir sem antes extinguir, esgotar essa chama que me consume de paixão, medo e terror de te perder.
Não posso deixar o inverno invadir o calor que encontro nos teus braços.
Me recuso a ser um bicho infeliz, murcho, que pode sucumbir a qualquer momento.
Não posso ser lançado a dura solidão, mergulhado nas sombras.
Meu amor é como alma de fósforo: só acende uma vez!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Vertical


Foto-João Ferraz


VERTICAL


Célia Pires

Um homem pode se encontrar perpendicular ao plano do horizonte: VERTICAL
Pode estar direito, aprumado: VERTICAL.
E em sua Verticalidade cruzar palavras e amores,
se perder no micro ou se achar no macrocosmo ou vice-versa!
Pode correr , Verticalmente o mundo todo, brincar e ser vertical até em italiano: Verticale!
Esse homem pode, se quiser,desnudar-se de toda hipocrisia, 'acender' algumas estrelas de esperança apagadas pelo tempo, legitimando assim a sua singularidade, criar a sua identidade em meio a vários tipos humanos e assim ser um ser ÚNICO.
Mas, em meio a tantos desdobramentos para ficar na VERTICAL, ele sempre há de se deleitar quando lembrar das delícias que o aguardam na HORIZONTAL...


sábado, 8 de maio de 2010

Mentira


Mentira
Foto-João Ferraz
Célia Pires


Abri meu coração.

Escancarei a minha porta.

No desespero da paixão rasguei a roupa. Bati. Gritei. Por fim, chorei.

Sempre acreditei que os olhos diziam tudo, mas os meus, "mudos", não lhe passaram a mensagem.
Fui aprendendo com a crueza do amor o que é o querer sem querer, o que é querer ser par/ter par e estar a par.

Muitos outros vieram-mas não quis ninguém- você deixou sua marca/tatuagem, indelevel no
meu corpo, na minha alma e no meu coração.

Não tranquei meu coração, mas até agora você ainda ocupa todos os cantinhos- você corre pelas
minhas veias. Teimosa, a sua imagem não desbota...

Você é como um filme que tem uma imperfeição, mas por algum motivo a gente insiste em assistir de novo e de novo...

Se você fizer um sinal eu vou. Não presto?. Não, eu amo!
Só lamento ter sido mentira as palavras açucaradas que bebi de sua boca e de ter sido falso o amor que você jurava sentir.

Mas a mentira me trouxe a verdade do que é amar alguém incondicionalmente. Ficar pronta para perdoar no momento em que você atravessar o meu caminho. Falta de vergonha? Não. Já disse que é amor!
Mentira se eu disser que sabia que você me enganava. Só sabia da delícia e da loucura que era você.

Eu ainda te espero... e isso não é mentira!!!

Horizontes

Foto-João Ferraz
Horizontes


Célia Pires

Alguém conseguiu transpor os horizontes de minh'alma fazendo com que seu céu tocasse o meu mar. Ilusão de ótica? Não, pois bem na linha de um desses horizontes ficou marcada a lembrança do sorriso desse alguém e sua presença virou um bom motivo para se viver.
Esse alguém também se alojou muito além desses horizontes e acabou por se transformar em meu sonho colorido. E isso, inevitavelmente, me fascina. Eu caminho e espero ao mesmo tempo esse alguém chegar.... e vai chegar, a despeito de toda sua teimosia e preconceito, ela me tornará a pessoa mais feliz do mundo inteiro. Vai conseguir unir todas as linhas de meus horizontes e vai perceber que de todas as fontes que existem, quero beber somente da dele,a única que poderá me saciar...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Foto-João Ferraz
"Só"


Célia Pires

Não quero aprender a ser Amei demais. Sem arrependimentos
A vontade de ser sol acabou em escuridão no meu coração sufocando o brilho da paixão!
Sonhei alto demais. Como num conto de fadas quis ser a preferida entre tantas
Quis te levar para um ninho de amor, mas ninguém consegue raptar o amor. Ninguém!
Dos sorrisos, hoje, somente lágrimas. Amargas.
Apesar do dissabor,das desventuras não quero aprender a ser só. Não vou me permitir.
Pois você foi muito, mas não foi tudo...

Lâmina

Foto-João Ferraz


MINACélia Pires

Não vê a dor que provoca ao pisar, mesmo
que de mansinho, nos meus sonhos?
Não consegue perceber meus lábios
sedentos por um beijo seu?A minha boca pronta para encontrar a tua?
Não sente meu corpo febril?
A minha alma desnuda?Não percebe meus braços
prontos para te enlaçarem num abraço?
Com isso, também não percebe meu coração sangrar, cortado que foi pela fria lâmina de sua indiferença...