Foto- João Ferraz
Teia
Célia Pires
Preza limites, embora não seja limitado.
É discreto, tão misterioso e reservado que é um convite querer desvenda-lo
Se ama, não gosta muito de falar e nem de demonstrar, mas por vezes deixa escapar um tom de profunda e morna ternura rasgando de prazer o coração de sua eleita, pois o momento é raro.
Tripulante de uma embarcação que pode jogar ou levantar âncora a qualquer momento. Um viajante do tempo sem precisar sair do lugar.
Muitas vezes o olhar vaga em penetrante melancolia e ele luta para içar os sonhos de volta e de novo e de novo parecer alguém simplesmente normal. Mas sabe que não é fácil retomar a rota desviada, tecer o fio tênue da esperança.
As imagens que produz ganham um colorido a mais, pois quer acreditar num mundo colorido. Muitas vezes mascara a realidade para não masca-la e engoli-la de uma vez e vomitar a sua desesperança, os seus queixumes que ele e somente ele sabe que carrega em sua própria teia.
Tantos sonhos de menino, tanta coisa o fascinava, mas o canto da sereia o atraiu e o traiu o marcando para sempre, mas ele nega essa verdade a si mesmo para não sucumbir. Pensa que foi tolo!Mas não sabe que ninguém é tolo quando acredita no amor que dá forças para qualquer desafio.Embora se engane, ainda não conseguiu se soltar dessa teia de rejeição e perguntas não respondidas.A solidão parece ainda ser a melhor companheira. Está enganado e sabe disso.Mas o canto da sereia ainda ecoa em seus ouvidos trazendo dúvidas se vale a pena ser par ou ímpar!
O corpo é forte e essa busca pela perfeição pode virar uma doença como um barco perdido num imenso mar, pois todos os outros sentidos são subjugados, esquecidos. Não importa a simpatia, a verdade, a dignidade. Só essa beleza externa. Só mansão, mesmo que a felicidade esteja na casinha branca de sapé. Poesia pra que?
E é esse amargor que muitas vezes o paralisa, que o torna trágico,que lhe arranca o açúcar que poderia fazer a doçura do bonito olhar.
E assim, mesmo lutando contra o tempo, as rugas de seus próprios desenganos vão fazendo sua morada, os cabelos outrora coloridos vão se tingindo de prata a despeito de sua vontade. Preso na teia do tempo que é inexoravel!
Mas ele ainda não aprendeu a lição, pois é um dos melhores, mas não é o único.Ás vezes se cansa de tanto correr atrás.O mundo se torna muitas vezes injusto demais. Sinistro? Sim. Mas é a vida. A vida que mostra que devemos olhar entorno de nós mesmos e reconhecer que não somos deuses, que devemos de vez em quando agradecer um gesto feito com ternura, sorrir mais e com verdade e simplesmente valorizar a amizade, a amizade consigo mesmo, que também pode ser e é uma das mais bonitas formas de amar...de se amar...
quinta-feira, 10 de junho de 2010
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