segunda-feira, 7 de junho de 2010
Alegria no chão
Foto-João Ferraz
Alegria no chão
Célia Pires
Lembra quando a gente era criança e alguém aparecia com um pedaço de pão ou uma guloseima qualquer e ,às vezes, antes de algum colega dizer não a gente gritava : Metadinha?
Mas também tinha uma outra palavra que a gente gritava quando não queria repartir. Não me recordo qual. Que pena!Mas acho que era, segundo meu irmão: 'licencinha'.
E nesses gestos e atitudes de repartirmos ou não é que fomos forjando nosso caráter, nossa maneira de ser.
Sabíamos exatamente quando alguém queria nos sacanear e vinha com as mãos cheias de um pedaço apetitoso de bolo que sabia fora do nosso alcance e já destruia nosso sonho de sabores, antes mesmo que a saliva se formasse em nossa boca. Sim, as crianças sabiam ser cruéis, mas também sabiam despertar o que mais bonito havia dentro de cada um de nós: a solidariedade!
Sim, erámos solidários quando não ganhávamos o desejado pedaço da guloseima, quando erámos esnobados pelos bambambans da escola, quando morríamos de medo dos meninos das laias atrevidas, dos estilingues com suas mamonas ou pedregulhos certeiros e quando simplesmente queríamos ser simplesmente crianças e ganhávamos os campos, os rios. Virávamos índios, bandidos, mocinhos. Nadadores dos lagos. Pescadores de girinos. Heróis do mato. Músicos de latas de óleo. Atiradores de macarrão. Eramos nós na fita. Erámos nós que não nos importávamos com a alegria no chão que podia surgir de uma partida de bolinha de gude, do futebol, de brincar de queimada,escalando monte, mas de grama; esconde esconde ou apenas de um ingênuo tombo de um palhaço. Eramos nós no filme mais bonito de nossas vidas: a INFÂNCIA...
Muitos cresceram e se esqueceram, mas outros ainda estendem a mão para aquela criança que ficou escondida dentro de si mesmo num cantinho inesquecível, confortável, morno e gostoso, e a convidam para vir brincar em seu quintal...ai é a alegria de volta...alegria no chão 'macio'da memória!!!
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