quinta-feira, 1 de abril de 2010

Foto-João Ferraz
(Imagem meramente ilustrativa)






Dentro de si mesmo

Célia Pires
Perdi a cabeça e agora vivo no mundo da lua. Distraída.
Converso com o vento. Bato papo com o tempo.
Tiro tudo de letra. Tenho jornais, revistas e livros guardados dentro de mim.Guardados dentro de mim...
Sei que minhas andanças podem custar os olhos da cara, mas quem me reconhece como cidadã? Custa muito caro.
Assim vou pisando em ovos. Mas sem ser cuidadosa!
Uma pulga me 'anda' atrás da orelha. Sou desconfiada. Afiada!
Mas não pense não que sou um zero à esquerda. Tenho meu valor. Sou patrimônio de mim mesma.
Meu piano é especial:Bate na mesma tecla.
Não pense que não digo coisa com coisa. Sim tenho nexo, se quiser faço sentido.
A vantagem é que ninguém pode me colocar no olho da rua. Sou a rua!
Mas coloco as cartas na mesa. Posso tocar no seu ponto fraco. Cuidado, que posso
dar com a língua nos dentes. Te denunciar.
Mas prefiro por vezes caminhar e ficar de papo pro ar, de braços cruzados.
Cansei de bater com o nariz na porta, de entrar em fria, mas sei tudinho na ponta da língua. Um dia ainda porei tudo em pratos limpos. Não vou dar mole não. Um dia essa ata desata e o trombone vai tocar e as baianas vão rodar.
Fica de olho. Fica na sua. Não venha bater boca que você vai entrar pelo cano.
Sei armar o maior barraco. Sou osso duro de roer.Faço das tripas o coração para sobreviver. Survive querido! Sobrevivo dentro de mim mesma!E você o que traz dentro de si mesmo?

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