quarta-feira, 31 de março de 2010

Vida de Galinha


Foto-João Ferraz


















"Vida de Galinha"

Célia Pires

Toda vez que vejo uma galinha, me vem à mente uma lembrança da minha infância, quando ainda não tínhamos tantos veículos circulando pelas ruas : uma dessas aves atravessando a rua e atrás dela todos os seus pintinhos em fila indianaProteção constante. Como aquela história da galinha choca! que abriga os ' filhinhos' sob suas asas.Pensava: mas como a galinha sabe atravessar a rua, como ela sabe aonde está indo? Lógico, que perguntas por assim dizer descabidas acabam ficando sem resposta. Não descobri até hoje.
Mas, se as galinhas tivessem algum tipo de nostalgia(vai saber não é?)talvez, tivessem saudades de uma época em que eram criadas nos vastos galinheiros totalmente despreocupadas se um dia viriam a ser o prato do dia, 'debicando' de tudo, De tudo mesmo!
Os ovos eram um show à parte. Era algo mágico descobrir uma galinha poedeira que era tratada como a Galinha dos Ovos de Ouro:omelete, bolos, biscoitos, enfim uma infinidade de quitutes e o feito final: o milagre dos pintinhos.
Até a vida das galinhas já foi boa um dia mesmo não sendo elas as protagonistas das manhãs, pois ao raiar do dia quem cantava era o galo. Mesmo tendo que obedecer à hierarquia (não se esqueçam do galo), as ' meninas' tinham comedouros e bebedouros, poleiros onde podiam dormir. Depois da refeição da manhã,podiam passar o dia ciscando, comendo um milho aqui uma minhoca ali ou que aparecesse no pedaço.Quando fazia calor podiam ficar à sombra para se refrescarem! Hoje quanta diferença! Vivem praticamente cativas, em compartimentos que mal podem se mexer!Alimentadas com rações especiais para engordarem mais depressa.Perderam a liberdade. As galinhas perderam a liberdade!
O que será aconteceu? Será que meteram o bico onde não foram chamadas? Incomodaram com seus pés de galinha?
Ainda existem alguns galinheiros remanescentes, mas são privilégios de poucas. Para essas, a vida de galinha é boa, mesmo que o final seja a panela.
Existe uma teoria de que as galinhas por conta da domesticação perderam a necessidade de voar para fugir dos predadores. Talvez, por terem um cérebro menor do que o de um grão de ervilha não perceberam o quão próximo estavam seus predadores....o quão próximo!

Um comentário:

  1. Que maravilhosa analogia, somos mais ou menos como as galinhas, vivemos confinados com os nossos predadores!
    Gostei muito desta postagem, um momento que nunca parei para pensar na vida das galinhas!
    De repente não só são os valores humanos perdidos, muitos dos animais domésticos já tiveram uma vida boa!
    Muito obrigado por existir Célia e fazer desta vida um POEMA!

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