domingo, 21 de março de 2010

O portão



















Foto-João Ferraz




O Portão
Célia Pires
Por que nunca me convida para entrar?
Não sabe que me magoa ao me considerar indigna de entrar na sua sala e nunca avançar além do portão, sempre fechado para mim?
Será que acha que vou bolinar o seu castelo? Não quero e nem me interessa desvendar nenhum segredo. Só vou saber o que me contar, se me contar...
Não quero saber se há pó ou alguma tralha espalhada. Nada disso me interessa.
Só queria me sentir bem-vinda em sua vida.Em sua casa. Mas descobri que não sou. Que nada sou. Que triste. Desconfortável. Não vou pagar pela minha entrada...
Não faz idéia de como me machuca essa barreira imposta, pois sei que é feita de caso pensado.Deliberadamente.
Tantas portas me são abertas, escancaradas.Porque essa sempre fechada pra mim me afeta tanto? Talvez seja por eu ser quem eu sou, alguém que só pode existir num mundo virtual, pois ninguém questiona. Onde ninguém me vê. Onde sua imagem não é comprometida por alguém feito eu: Um Alien!
Mas deixa pra lá. Fazer o que? Ligar o velocimetro do Desconfiometro! Devemos estar preparados para os desenganos! Não devemos forçar a entrada no portão das casas alheias, mesmo quando havíamos acreditado que os portões sempre estariam abertos para os considerados amigos, a qualquer hora...


Nenhum comentário:

Postar um comentário