quarta-feira, 28 de abril de 2010

Amor de macarrão




Foto-João Ferraz




Amor de macarrão

Célia Pires

O rapaz de repente se lembra de um episódio de sua infância e diz pra moça que estudou na mesma escola que ele:
-Sabe eu acho que era em você que eu atirava macarrão de sopa com a colher (risos) !Era sim. Era em você.(risos). Você ficava na ponta da mesa. Seu cabelo era curto, meio armado. Você tinha uma blusa de lã de botões. Eu atirava o macarrão e você não via. Eu era bom nisso! (risos)!
A moça chocada com tal lembrança que lhe trazia certo desconforto faz uma pergunta ao rapaz para ter certeza se era mesmo ela:
- Você fotografou?
E ele responde:
-Sim com a memória.Delícia viu? (risos). Lembrei mais: o macarrão batia na sua cabeça e voava longe. Você nem sentia. Tava com fome( risos)!
A moça meio sem jeito diz irônica:
-Então esse seu amor por mim vem de longe!
Mas o moço indiferente à ironia continua dizendo:
-O macarrão era de conchinha (hahahahaha). Você era alvo fácil . Era alta e eu via de longe.Agora me diverti viu?, diz ele informando que agora vai ter que parar o papo e dar uma pausa nas recordações, pois precisa tratar do seu animalzinho de estimação.
Ela responde indignada:
-Vai ele merece. Animal tem pela gente um amor incondicional e nem pensa em jogar macarrão na gente. Beijo! Tchau!
O moço continua rindo das suas lembranças de menino:
-Hahaha
No que a moça irritada diz:
-Quem ri por último hein...
E ele todo espituoso responde:
-Não come macarrão (kkkkkkkkkk).Fica rindo!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Passagem

Foto-João Ferraz
Passagem
Célia Pires
Demorou, mas de repente, assim de passagem, encontrei a mais bela paisagem.
Além da porteira, as copas das árvores
parecem esconder a felicidade.
Mas como entrar?
Devo pular e tomar de assalto?
Devo esperar alguém abrir?
Pular ou esperar? Esperar ou pular?
A paisagem além da porteira parece tão bela,
mas tão bela que me comove até às lágrimas...
Um aperto no peito me avisa que não adianta transpor
a porteira se a grande cesta do coração estiver vazia.Não me darão passagem!
Terá sido em vão todos os passos dados em direção a essa bela paisagem, todas as dores suportadas com a caminhada.
Mas dentro de mim nunca mora o vazio. Nunca está frio.
Assim decidida,abro eu mesma a porteira da minha alma que é só, mas que não é solitária.Vive acompanhada de ternos sonhos, iluminada pelo brilho de belos olhos de esperança.
Avanço cada vez mais para o interior desse mágico lugar e com esforço sobrehumano me arrasto para dentro dessa bela paisagem que representa apassagem para que eu possa ir em busca da felicidade, da felicidade...

sábado, 24 de abril de 2010

No meu jardim



Foto-João Ferraz



No meu jardim
Célia Pires


No meu jardim só faltava receber
o 'bavejar' de um delicado
beijo de uma
borboleta
errante a quem
dei o nome de
Você!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Paz







Foto-João Ferraz



PAZ
Célia Pires

Ah! se eu pudesse pintar a paz! Como ela seria?
Um mar em completa calmaria?
Uma criança dormindo serenamente?
Se eu pudesse pintar a paz que cara ela teria?
A da alegria?
Mas como pintar a paz num mundo convulso e em completa agonia?
Como manejar os pincéis sem borrar a tela com angústias, com as dores das feridas abertas nos corações daqueles que só procuram viver em harmonia?
Como pintar a paz me isolando das pessoas, me perdendo de mim mesma? E se por acaso me encontrar que paz posso encontrar me apartando das pessoas? Como pintar a paz na solidão, se depois temos que submergir à superficie e encontrar nossos pares? Conviver? Sobreviver?

A paz é um estado de espírito? A paz é a falta de guerra?
Muitas vezes sou assaltada e conseguem roubar a minha paz e inúmeras vezes me esqueço de que ela,a paz, repousa no fundo de mim mesma e que só eu posso deixar que me roubem. Não quero conquistar a paz através da guerra! Contrapartida partida!
Quero pincéis de cerdas macias. Embora saiba que não há perfeição e que posso arranhar a superficie da tela. Fazer rasuras. Devemos aprender a antiga lição de que na tela da vida não há rascunhos. Somos tela em branco, na qual vamos pintando nossa história, embora possamos esconder as cicatrizes com uma demão a mais de tinta.
Na verdade, eu não queria saber de retórica.Ela às vezes não expressa as cores verdadeiras dos sentimentos. Queria e quero só poder fazer uma coisa: pintar um lugar bem bonito e te levar pra lá. Pra vivermos em paz....em paz...

Na grafia da luz...


















Foto-João Ferraz


Na grafia da luz...
Célia Pires
Tudo vai se alumiando enquanto uma estrela cadente 'desaba' do firmamento. No campo, esse brilho intenso parece compor uma linda canção de amor.
A natureza parece ficar em festa. A estrela, que vem cortando o espaço, parece uma espada feita de luz e sua força parece abrir uma brecha na escuridão. Por um momento divinal tudo se congela. As folhas não balançam ao sabor do vento, o cavalo não dá o próximo passo.Tudo, por um mágico instante, fica eternizado no caderno do tempo que só pode ser lido por aqueles que aprenderam a ler a grafia da luz...na grafia da luz...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Imaginário


Foto- João Ferraz
Imaginário

Célia Pires

Sem você é como se tivessem apagado a luz do mundo: eclipse total. Fico perdida, abandonada no deserto de mim mesma.Fico sem fome. Tudo é insosso.O mundo perde um pouco a cor!
Em meu imaginário tento desenhar seu nome me esquecendo que você já está tatuado nas linhas tortas do meu coração que só sossega, em reta calmaria, quando está junto a você. E é só você chegar que me derreto como um torrão de açúcar numa xícara de chá,como gelo numa chapa quente.
No meu imaginário vou criando mil situações, treinando mil frases de amor pra você.
E é só você chegar para eu esquecer tudo e querer te levar às mais belas viagens. Só nós dois, além da imaginação, além dos sonhos. Comunhão de almas. União de corpos.Nosso amor fazendo tudo brilhar à nossa volta. E juntos no mesmo compasso vamos escrevendo a nossa real história de amor, além da tenue linha que separa o real do imaginário...












quinta-feira, 8 de abril de 2010

Amigo


Foto-João Ferraz
AMIGO
Célia Pires
Ele passava por uma grande crise. Doente, tinha dias em que não suportava a companhia de ninguém. O barulho, qualquer barulho, o incomodava sobremaneira. Tinha e precisava ficar sozinho com sua dor. Com suas dores...
Engraçado é que toda familia já acostumada, saia, o deixando sozinho,ensimesmado, num quarto escuro, pois até a claridade o incomodava, mas o cão ficava. Parecia adivinhar a dor e o desconforto de seu dono. Nessas horas, se encostava suavemente no homem e ali ficava parecendo compartilhar de sua dor. Não latia. Não se mexia. Só lhe fazia companhia.
Não se importava com os espinhos que envolviam aquela 'rosa'. Quieto, só lhe fazia companhia.
Muitas vezes essas crises ocorreram. E em todas vezes lá estava ele.O cão!
Seu dono sarou e hoje é possível vê-los todas as tardes passeando por uma das principais ruas da cidade. E o sorriso do homem mostra a sua imensa satisfação de levar para passear não somente um cão, mas um AMIGO...

medo

Foto-João Ferraz
" MEDO"

Célia Pires
Alguns dizem que o medo nos paralisa, outros que sem ele não teríamos a coragem de enfrentar...
Só sei que chega uma certa hora na vida que dá medo de gente que vive imitando os sonhos dos outros. Medo de conhecer a si mesmo? Enfrentar suas limitações e vencer seus defeitos?
Dá medo de gente que vive enganando a si próprio, mascarando sentimentos, omitindo de si mesmo a realidade da vida. O que será que esperam encontrar ao descerem a escadaria da ilusão?
Seja corajoso, não tenha medo e olhe bem no espelho que existe dentro de você, vasculhe cada canto. Não olhe só os reflexos. Mergulhe fundo dentro de seu ser e descubra-se. Você não vai morrer se não souber nadar!Pelo contrário...
O medo paralisante te impede de fazer amizade consigo mesmo e com isso você deixa a si próprio na mão' na hora em que você mais precisa de você mesmo. Complicado? Tanto que dá até medo!
O medo é a falta de coragem ou a coragem é a falta de medo?Tanto faz. A diferença está, quando sozinho,o que você vai decidir fazer com seu medo quando aparecer uma grande 'fera' nessa imensa floresta que é a vida...

Comida

Foto-João Ferraz



COMIDA



Comida: Alimento da Alma.
Do Corpo.
Fonte de prazer.
Pronta para fazer a alegria de um bicho infeliz!
E esse alimento pode trazer renovação.
Capaz de encher de 'estrelas' o céu da boca do estomago!
Comida futuro da semente que vai germinar e crescer.
É instrumento que vai mudar o aspecto sumido, murcho, de trazer calor ao frio profundo da alma.
Comida pode ser o Sol brilhando, anunciando a chegada de um novo amanhã.
Engraçado como pode encher uma casa da mais completa alegria!
Comida é o 'Pão' da vida. É um remendo na esfarrapada esperança cansada de esperar...

Dia após dia



Foto-João Ferraz




















Dia após dia

Célia Pires

O agasalho não a protege do pior frio, o da alma.Só sabe que dia após dia o país está perdendo a cor, que o verde da esperança está manchado pela indiferença dos poderosos.
E o amarelo ,dia após dia, se transformando na cor do desespero de uma população que não sabe mais o que fazer para 'botar' o arroz e feijão na mesa e sofre toda sorte de coisas.
Como é dificil ter que lutar dia após dia quando as forças físicas estão enfraquecidas, quando o braço, principal ferramenta de trabalho, quase não se sustenta erguido.
Ver que o azul está desbotando dia após dia. Onde ficarão as estrelas?
Mas dói para um cidadão, já encanecido pela idade sentir que o branco (branco) está cada vez mais sendo maculado, invadido pela corrupção, desvirginado pela ambição daqueles que só pensam em si mesmos, ao invés de voltar pelo menos um 'pensamentozinho' para o povo.
Não está fácil ver a bandeira se transformando em pano de chão. Quanta cor sendo desperdiçada. Cores da vida, da alegria, da luta. Cores que dia após dia vão se apagando para dar lugar às cores da angústia...Dia após dia....

O Beijo



Foto-João Ferraz


O Beijo

Sou muito estudioso e provo como é bom conjugar o verbo beijar no presente do indicativo: Eu beijo.Tu beijas. Ele beija, mas o que me interessa se são os seus lábios que quero?Nós beijamos. Delícia!Vós beijais.Eles beijam. Mas só quero nós:briga de línguas. Néctar da Flor.Se não faltasse a respiração te beijaria para sempre. Mas, felizmente, sei conjungar o futuro do presente do indicativo que me indica que eu beijarei você. Tu beijarás, mas só a mim. Ele beijará outra por que seus lábios são só meus.Tomei posse. Nós beijaremos. Vós beijareis.
Eles beijarão? Não sei. Só sei que o beijo me conta seu desejo e me abre as portas do paraíso...

A chave

Foto-João Ferraz


A CHAVE

Célia Pires

Procura nervosamente elos com a realidade. Abre a gaveta da cômoda e retira um disco. Bolero de Ravel. Um pó de arroz já completamente ressecado pelo tempo assim como ela. Um batom inacabado como tantas coisas que deixou inacabada em sua vida. Papel de bombom amarelecido. Elos com com uma realidade já passada! Procura pela chave. Não encontra. Chora. Como viera parar ali? Como deixou alguém cortar-lhe as asas da liberdade? Não sabia dizer se a culpa fora da vida que lhe roubara os sonhos e lhe castrara a felicidade que um dia pensou em encontrar. Mas onde está a maldita chave?
Procura um espelho e fita o rosto como se o estivesse vendo pela primeira vez. Descobre sinais em relevo: rugas feitas pelo tempo. Mas vê nos olhos lampejos de esperança, e percebe que não era apenas uma estrela que caiu. Possuia ainda cinzas de um brilho que poderia ser reacendido. Mas cadê a chave? Cadê a chave meu Deus?
Não era alegre. Não era triste. Muito menos poeta como diriam. Era como a chamavam: de 'maluketa' do quarto 17, a louca no meio de tanta gente também com a sanidade abalada. Sim, morava num manicômio, mas o que aconteceu para que viesse parar ali, isso era incompreensível para ela. Cadê a chave?
Se distrai.Ouve música. Alguém tocava piano, e por alguns instantes deixa-se embalar pela doce música, mas de repente caiu o silêncio e ela volta a pensar sobre si mesma. A solução estava na chave. Precisava encontrá-la.
Resolve passear pela jardim do manicômio. Quando sai do quarto é tomada, quase assaltada pelo cheiro das violetas e rosas. Deixa o aroma entrar pelo pulmão adentro. Deixa-se inebriar pelo frescor. Vai caminhando até que se depara com o portão do hospital. A chave lá estava. Gira-a como se girasse a roda da salvação. Mas o portão está aberto. A chave agora se transforma em vontade de voltar a viver. Corre para as ruas como quem corre para a vida. Abandona o manicômio como quem abandona um mundo rotulado, e se volta para as ruas para receber as boas-vindas de um mendigo que passava.Não sabe se abandonou algo de bom. Só sabe que não pode continuar ali. Vira definitivamente as costas para aquilo tudo, sem saber no que podia dar certo, mas seu espirito ansiava por nutrir-se de liberdade. Começa a andar vagarosamente pelas ruas da cidade e não vê diferença entre o seu mundo e essa loucura que é o mundo aqui fora.Está pronta para enfrentar tudo, mas por via das dúvidas traz consigo a chave. A chave...

A escada

Foto-João Ferraz


A Escada

Célia Pires

Cada degrau é um símbolo de minha longa espera.
Nessa escada conheci o meu primeiro e verdadeiro amor: os nossos olhares se cruzaram e no mesmo instante nossas almas se reconheceram.
Nessa escada, disfarçadamente, nos esbarrávamos, as mãos se tocavam. Á noite, sob a proteção da lua,trocávamos beijos carregados de veladas promessas. Juras foram feitas. O amor foi selado...
Para mim a escada virou um símbolo da minha felicidade. Até o dia em que você deixou de aparecer.
Amarguei por longo tempo a espera. Inocente, não imaginava que se oporiam ao romance de um caboclo com a rica filha do fazendeiro. Mas assim foi.Você foi obrigado a ir embora para longe. Vigiados, ficamos impotentes.
Ninguém se importou com minha dor.Com a nossa dor. Só tive a escada como testemunha dos meus lamentos.
Mas meu coração ainda acalenta uma esperança de um dia te ver chegar subindo a escada e dizer desesperadamente: amor, voltei...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Carnaval

Foto-João Ferraz

"Carnaval"

Célia Pires

Pena, o carnaval já passou, mas não consigo tirar a máscara do meu encouraçado coração.

Sim. EU TE AMO!

Sim. EU TE QUERO!

Mas tenho que negar, pois você não quer fazer parte do meu samba.
Assim, vou te amando às avessas e fingindo viver como se todo dia fosse Sábado de Aleluia. Não quero que minha vida seja uma quarta-feira de cinzas...quero cor em meu viver. Queria que todos os dias você desfilasse na minha escola. Queria ser sua porta- bandeira, sua rainha da bateria, mas fui lançada à solidão da avenida....sem Carnaval...sem direito à ilusão das fantasias...

Casa na Flor

Foto-João Ferraz
Casa na Flor
Célia Pires
Ah! Se você soubesse o quanto te quero.
Pra você ofereço meu abrigo: minha Casa na Flor!
Enquanto você não chega vou aqui preparando a Lua, escondendo o Sol.Só quero a sua estrela brilhando...no meu céu.Da boca!
Quero minha casa invadida pelo seu cheiro. Quero sua voz no meu ouvido sussurrando palavras de amor.Quero morrer e renascer em seus braços.
Com você quero que aconteça tudo...as portas da casa da Flor estão abertas, só esperando você chegar!Só esperando você chegar...

Lembranças

Foto-João Ferraz
Lembranças
Célia Pires
Todos os dias e sempre na mesma hora lá está ele na estação. Sentado num num dos bancos ele fecha os olhos e se deixa invadir pelas lembranças de um tempo que só depois que passou que veio a saber que era um tempo feliz.
Em suas lembranças ele a vê descendo naquela estação. Sente-se invadido por seu cheiro fragrante como flores que acabam de se abrir.Ela, uma rosa perfumada! Inebriado, se sente profundamente tocado.
Mas ele ao invés de apreciar a beleza da rosa deixou se picar pelo monstro do ciume.
Mas, como toda rosa ela também era rainha e o queria a seus pés e não em sua jugular e antes que pudesse se machucar com seus próprios espinhos o abandonou.Partiu sem nem olhar para trás!
Ele não se conformou, pois como um peixe já não sabia viver fora d'água, seu coração precisava daquela rosa para ser um jardim completo.
Que tolo foi. Pensou que a pudesse esquecer, mas a cada dia a lembrança ia matando mais e mais o seu coração e a vontade de revê-la era tão grande que nem sabia mais o que fazer. Tudo o fazia se lembrar dela: quando sentia o calor do Sol lembrava de seu corpo moreno, de sua boca que o provocava; quando via o brilho das estrelas, recordava do seu olhar brilhante que nunca se apagou no céu do coração.
Ela nunca soube a falta que lhe fez e faz, da saudade que ele sentiu e sente de suas palavras doces caramelando o seu coração.
Para aliviar a dor começou a ir até à estação e para sobreviver, para não tornar-se um naufrago de si mesmo criou a ilusão de que ela chegaria num dos trens.
Sempre esperando que um dia ela vai voltar e que juntos voltarão a ser felizes ,ele vai enchendo seu coração de esperança... e assim vai sobrevivendo a um dia de cada vez. Sonhando acordado pensa que se um dia seus caminhos novamente se cruzarem, ele não a deixará partir, por que o seu amor é uma pura necessidade de ficar junto a ela e amá-la para sempre...Enquanto isso, para não morrer de amor vai se alimentando de doces...de doces lembranças!

Amor

Foto-João Ferraz


AMOR

Célia Pires


Ás vezes temos tanto sentimento dentro do peito que temos medo de que transborde.
Muitas vezes, descontrolado, esse sentimento foge e travestido de lágrimas, fica em suspense. Suspenso no nosso medo de descobrirem que o temos.Medo de sermos pegos em flagrante e ridicularizados.
Ah! como muitas vezes queríamos ser tresloucados e gritar esse sentimento para todo mundo saber. Pra você saber...Mas temerosos o guardamos e sofremos da mesma forma.
Esse sentimento é tão forte que nos domina, nos lança no chão da vida sem dó e nem piedade. Porquê?
Ouço de dentro de mim ele responder que não nasceu para fazer ninguém prisioneiro. Ele quer liberdade para tombar no chão, para deitar até nas calçadas e mostrar do que é capaz. Ainda, pensando que estou louca, ouço ele completar que são privilegiados os que o sentem e que não cabe o medo. Não cabe o medo!
Luto.Reluto em libertá-lo, mas ele me diz: o que você tem a perder além da dor que já impõe a si mesma?
Confiante no que ele me diz, pouco a pouco vou soltando as amarras com os quais o prendi. Livre das correntes me sinto leve. O sorriso que se forma em meu rosto é como uma resposta de que fiz a coisa certa e de que ninguém pode aprisionar o mais bonito dos sentimentos, o AMOR...



Pé de chinelo

Foto-João Ferraz

Pé de chinelo

Célia Pires

Que importa se andamos de salto alto, sapato ou de chinelo, se o gostoso mesmo é poder roçar os meus pés descalços nos seus?
Nada importa se podemos seguir juntos e seguir pelo mesmo caminho. O do Amor! Pé de chinelo com pé de chinelo. Pobreza? Não. São passos ricos dados na mesma estrada...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Tristeza Colorida

Foto-João Ferraz




Tristeza Colorida

Célia Pires

Quantas vezes busquei novos horizontes? Lembrava da música que dizia que além do horizonte deveria ter um lugar bonito para se viver em paz. Prossseguia. Até que essa busca deixou de acontecer dentro de mim. Embora nomade, o ideal que eu tinha sofreu paralisia. Passei a não andar mais, não correr mais atrás desse horizonte que outrora coloria a minha tristeza.
O que sou se nada busco?Onde espero chegar se caminho para lugar nenhum?
Às vezes, quero ir em busca de mim mesmo. Mas me falta o veículo: coragem. Sim coragem de me encarar, de me enfrentar, de deixar de ser apenas um número na estatistica. Choro e ninguém vê. Ninguém liga. Conheço o inferno. Sei a cara do Diabo e sei de seu outro nome: Indiferença.
Mas embora alquebrado, no fundo, no mais profundo de mim mesmo ainda guardo uma arma poderosa: a Esperança e ela que me faz viver um dia de cada vez. Hoje é essa Esperança que faz a minha tristeza colorida.

A Sementinha

Foto-João Ferraz

A Sementinha

Célia Pires

Uma sementinha dizia:

-Ah!Eu que não quero ser como a Rosinha que vai murchar e mesmo assim vive com ares de grande rainha!E continuava tripudiando:
-Também não quero ser como a Margaridinha, coitadinha, tão boazinha e nem como a Dona Quaresmeira, cruz credo que coisa roxa e feia!
Mas minha gente, o que a a pretensiosa e prepotente sementinha não sabia e que ela era sementinha de Erva Daninha!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Nhóra



Foto-João Ferraz




Nhóra

Célia Pires


Olha, tá vendo lá, bem lá embaixo?Sim, ela acreditou que tinha os olhos da nhóra e que conseguiria com a linha de pipa nas mãos fazer voar bem alto seu coração.Quando viu que não era possivel:
Gritou
Falou
Chorou.
Mas não implorou.
Viu.
Reviu.
A lembrança de criança no momento da queda a fez lembrar que aquele era realmente um tempo sem solidão, mas que havia passado. Precisava de novos horizontes. Sozinha ou acompanhada!
Sim tá vendo lá embaixo? Foi ali que a vi despencar. Depois ela me contou que não tinha somente os olhos da Nhóra. Ela era a Nhóra. E voou, voou...


Vai me encarar?

Foto-João Ferraz
Vai me encarar?
Célia Pires
Quando me vi frente a frente contigo, assim, podendo falar de perto pra perto,esqueci de fazer a pergunta do enigma: decifra-me ou devora-me?
Perguntei com todo 'adoçante' que pude colocar na voz: vai me encarar?
E enquanto aguardava a resposta,eu um ' batedor de matraca', ou seja, um conversador nato me vi mudo diante de tanta beleza. Beleza que não era somente externa. Vinha da simplicidade de seus gestos, da meiguice de seus olhos, da grande fortaleza travestida de fragilidade que dava até vontade de a pegar no colo e embalar...
Eu, que me achava o Todo Poderoso, o Gigante, poderia de um só golpe abater, devorar, caçar aquela frágil criatura e fazê-la minha prisioneira, mas inesperadamente, eu o caçador, me tornei a presa e cheio de uma estranha e feliz curiosidade: queria somente decifrá-la...decifrá-la...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

SANN

SANN







Foto -João Ferraz


SANN



Sann


Célia Pires
A força das suas imagens é algo mais do que poderoso. Fotografia mais que criativa. Sei que quer sempre mostrar algo majestoso, grandioso, mas o que há ainda para provar a não ser o sabor das frutas colhidas diretamente do 'pé'? No reflexo das nuvens no lago formando um duplo céu feito nuvens de algodão doce! O que dizer de uma pessoa que registra imagens tão belas? Você é intrigante. A alma livre e sensivel demais, avesso à gaiolas de qualquer espécie.Um amante da luz que, com certa certeza, também traz consigo um pouco de escuridão de dores longinquas que ,talvez, tenha feito de você um caçador nato: pois seu disparo perfeito como uma flecha lançada, captura imagens lindas.Sem dúvida, a sua habilidade é um dom natural somente polido pelo tempo como um diamante bruto que se transformou em rara jóia.
Quando vejo os seus registros algo dentro de mim flutua. Minha alma é tocada de alguma forma especial e nesses registros não procuro, magicamente encontro a inspiração que me faz sentir parte do Universo.Sann você é isso: uma viagem cheia de surpresas, às vezes P&B, às vezes, deliciosamente colorida, mas temos que ter cuidado ao embarcarmos, pois podemos não querer voltar...ao nos depararmos com tanta beleza...
Foto-João Ferraz
(Imagem meramente ilustrativa)






Dentro de si mesmo

Célia Pires
Perdi a cabeça e agora vivo no mundo da lua. Distraída.
Converso com o vento. Bato papo com o tempo.
Tiro tudo de letra. Tenho jornais, revistas e livros guardados dentro de mim.Guardados dentro de mim...
Sei que minhas andanças podem custar os olhos da cara, mas quem me reconhece como cidadã? Custa muito caro.
Assim vou pisando em ovos. Mas sem ser cuidadosa!
Uma pulga me 'anda' atrás da orelha. Sou desconfiada. Afiada!
Mas não pense não que sou um zero à esquerda. Tenho meu valor. Sou patrimônio de mim mesma.
Meu piano é especial:Bate na mesma tecla.
Não pense que não digo coisa com coisa. Sim tenho nexo, se quiser faço sentido.
A vantagem é que ninguém pode me colocar no olho da rua. Sou a rua!
Mas coloco as cartas na mesa. Posso tocar no seu ponto fraco. Cuidado, que posso
dar com a língua nos dentes. Te denunciar.
Mas prefiro por vezes caminhar e ficar de papo pro ar, de braços cruzados.
Cansei de bater com o nariz na porta, de entrar em fria, mas sei tudinho na ponta da língua. Um dia ainda porei tudo em pratos limpos. Não vou dar mole não. Um dia essa ata desata e o trombone vai tocar e as baianas vão rodar.
Fica de olho. Fica na sua. Não venha bater boca que você vai entrar pelo cano.
Sei armar o maior barraco. Sou osso duro de roer.Faço das tripas o coração para sobreviver. Survive querido! Sobrevivo dentro de mim mesma!E você o que traz dentro de si mesmo?