domingo, 17 de outubro de 2010

Curva


Obra do pintor Marcelo Accarini
Curva
Célia Pires
Depois da amarga revelação, esmagado pela fulminante verdade,
correu desvairadamente até chegar na curva da estrada.
Mas ela, na fuga,não havia deixado rastros.
Tomado pela furia havia jurado vingança. A traiçoeira haveria de pagar o mal que lhe fez.
E ali na curva da estrada, por um momento sentiu o chão, a terra ainda não machucada pelo asfalto,a sombra de uma bela árvore, o horizonte. E tal como veio o ódio foi-se.Também amava aquele chão.
Abençoou o sopro do vento que lhe chegou como um beijo de esperança.
Desistiu de buscar por ela.
De novo descobriu que amava aquele chão.Com a descoberta,abriu mão dos espinhos, soltou as amarras da dor.Libertou-se emudecendo a voz de prisão imposta por si mesmo, imposta por si mesmo...

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