Foto de João Ferraz
"Fragmentos Urbanos"
Célia Pires
No meditativo silêncio da noite
me encontro partido, desfeito.
A poeira do chão, os cacos estilhaçados da minh' alma me mostram que
não importa o tamanho da jornada: tenho que seguir.
Desperto por um instante do forçado alheamento
imposto por um mundo caduco.
Me vejo fora do universo. Sou neste momento
apenas um recorte extraido dessa louca cidade.
Um estilhaço pontiagudo que pode perturbar
e ferir a alma da noite com
sua inquietação profunda.
Tento atravessar a ponte de mim mesmo,
mas tropeço em sonhos enjeitados.Choro. Não quero ser fragmento.
Quero ser inteiro!
Dessa vontade emerge a esperança.
Não quero colar fragmentos,pois há tragidade em cacos estilhaçados.
Mas também pode haver beleza num verso, fragmento da poesia, na flor de um jardim, no canto de um pássaro, numa única estrela, na rua de uma cidade, num olhar, num único beijo...
Alimentado por essa paz decido recolher os fragmentos, reconstruir a minha identidade. E ao recolhê-los, me refaço,pois compreendo que cada parte é ao mesmo tempo o todo, sim ao mesmo tempo o todo...
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