segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Montanhas de Ubatuba

Obra do pintor Marcelo Accarini

www.accarinifinearts.blogspot.com

"Montanhas de Ubatuba"

Célia Pires

Meus olhos se deliciam ao avistá-las, pois ao longe parecem ser tão cremosas e macias, que por um breve instante, me esqueço das ondas salgadas de dor que a pouco 'molhavam' minh'alma.
A vontade de adentrar me invade. Descubro que ali quero me perder para me encontrar, me apartar das angústias que agitam o meu mar.
Sigo em frente,penetro no seu 'corpo' e não me arrependo: estar ali é um encontro com o divino.
É tanta beleza que dá vontade de pedirmos desculpas a nós mesmo por as macularmos com nossos dissabores.
Das plantas, da mata, do verde, sei lá,chega um perfume que me invade e me desarma. Aquela cremosidade antes distante me envolve com sua doçura.E estranhamente vem da rocha que parece me dizer que ali, no amanhecer ou no escuro da noite posso dar livre vazão à minha dor e vomitar as doloridas desilusões,pois ninguém saberá que um dia olhei a vida de longe, que fiquei nauseada com as mágoas profundas,que gemi, gritei de tanta agonia.
Mas ali parecendo ser abraçada por aquelas montanhas como um colo duro, mas cheio de uma morna ternura, me sinto fortalecida. Respiro fundo e aspiro o verde da esperanças que magicamente impregna o lugar.
Quero ficar nesse 'utero' rochoso para sempre, mas sei que seria covardia me deixar ficar ali parada. Sem lutar para conquistar o direito de ser feliz. Entendo que também sou uma montanha, feita da mais pura rocha. Certo que, por vezes, me deixo lascar, mas se até as pedras mudam de lugar quem sou eu para não tentar?Assim,desvanecida da mágoa profunda me levanto.Sei que depois desse encontro volto com alguma esperança.Alimentada pela força das montanhas me vejo renascer e gentilmente embalada por aquela singular cremosidade volto a caminhar...

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