sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Unidos



Foto-João Ferraz


Unidos

Célia Pires
O amor é isso: juntos e ao mesmo tempo separados.
Unidos por uma luz que alumia uma ponte chamada perseverança que nos permite, mesmo com os abalos, seguirmos em frente. O amor não pode ser começado pensando que teremos um final feliz. O amor não tem fim. Ele é uma verdade que existe ou não dentro de nós. Nos une e ao mesmo tempo nos liberta daquela busca incessante e agoniante de encontrarmos quem nos queira tal como somos e que não vai se apartar da gente quando as sombras vierem, pois elas vêm. Não nos iludamos do contrário.
Não é errado querer laços, pois o problema começa quando eles se tornam nós.
Criam raízes dificies de serem arrancadas e quando finalmente são extraídas sempre deixam um rastro de dor.
Tem um ditado que diz que quando brincamos com fogo podemos nos queimar e mesmo sabendo de antemão o quão quente é teimamos. Teimamos e teimamos. Transformados em fumaça lá vamos nós, fortalecidos pelo outro ditado que diz onde há fumaça há fogo. Assim, caminhamos e caminhamos e por fim concluímos que andamos tão carentes ultimamente. Essa vida atribulada quase nos consome por inteiro.
Queremos pausa nessa turbulência. Queremos que o avião despenque de um vez lá do alto, mas que pouse com tranqüilidade,para que possamos descer sãos e salvos.
Mas mesmo que isso aconteça nem sempre queremos repetir a viagem, pois uma vez vivenciado o vôo já saberemos a sensação e se nos causou dor ou estranheza não vamos querer repeti-lo.Não queremos nos arriscar não é? Passamos por um tempo a prosseguir à pé, mas até que chega uma hora em que pensamos: "vai que o vôo dessa vez tenha uma paisagem diferente?" Assim, novamente lá estamos passageiros de uma nova aventura até que conhecido todo o mapa deixamos de querer passar por aqueles territórios.Nos transformamos em nomades de sentimentos? Sentimentos ou sensações? Mas sabemos a diferença e como sabemos!
Mas não devemos nos esquecer que nem todos os passageiros são iguais. Nem todos estão em busca de aventuras, alguns têm uma direção clara do que querem. Não querem apenas desejar. Querem ser, fazer, estar.Unidos.
Qual será o momento em que aprenderemos que os sentimentos alheios ou mesmo os nossos não são simples cordas de um instrumento que podem chegar e tocar ao bel prazer? É necessário, ensaio, afinação, sintonia ou o risco de platéia vazia é grande.
Por isso é uma benção quando podemos seguir assim unidos, mas 'separados', preservando a individualidade, ligados por fios de comprometimento encapados com o respeito. É raro, mas não impossível.
Nosso grande mal é sempre achar que vamos enjoar 'do pra sempre' e assim ao longo do percurso até parece que 'trabalhamos' um pouco contra, cortamos fios, apagamos as luzes da paixão e queremos que tudo dê certo acendendo apenas um palito de fósforo. Mas quando nos desarmamos e deixamos rolar isso até pode acontecer, mas unidos, um dos dois vai deixar um ' soldadinho' de atalaia municiado com 'armas' de afeto, carinho, compreensão e sobretudo perseverança, porque sofrer não é bom, nem unidos, nem separados. Muitos já aprenderam a lição de que a dor é bonita somente na poesia...

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