terça-feira, 24 de agosto de 2010

Vertigem do tempo

Foto-João Ferraz

Vertigem do tempo


Célia Pires
Muitas vezes ao passar, o tempo nos joga sal nas feridas nos causando triste vertigem. E como dói ver a juventude fugindo na calada da noite como um animal feroz, que ao partir deixa marcas profundas na pele, cavando sulcos parecidos com terra arida.
Mas, se não soubermos envelhecer com dignidade, essa vertigem nos tonteia e nos apaga os sorrisos, nos oprime o peito nos impedindo de ver as lindas paisagens, que independente da idade, se oferecem sedutoras para também fazerem parte do baú de nossas memórias.
A cada dia devemos pé ante pé, bem de mansinho, guardar um pouco de alegria conquistada para quando chegar o tempo em que o veu da vaidade for brutalmente arrancado. Para podermos apanhar pequenas porções dessa alegria e nos entregarmos a essa vertigem do tempo, não mais impregnada de uma salgada tristeza, de uma ilusão de momento, de uma sensação de falta de equilíbrio no espaço, como se todos os objetos girassem sinistramente à nossa volta, mas uma vertigem daquelas que surgem quando ficamos em pé em um local muito alto, como se tivessemos chegado ao topo de nós mesmos e não lamentássemos o tempo que passou, ao contrário: contaríamos cada degrau vencido dessa grande escada que é a vida e não temeríamos nenhuma vertigem, nem a do tempo, nem a do tempo...

Um comentário:

  1. Que crônica linda!!!Essa me EMOCIONOU Célia!!(João Ferraz)

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