domingo, 1 de janeiro de 2012

Novamente um feliz ano novo





Célia Pires
Foto-João Ferraz

A lenha continua enfeixada sem fogo que a queime.
As lindas palavras das frases amorosamente ensaiadas ainda pesam na garganta.
O vinho especial desceu com sabor de pura rolha.
Nenhum fogo de artifício explodiu no seu céu
Mas não iria permitir que fizesse da seda um farrapo
Dos gritos de alegria, gemidos de agoniada dor.
Olha, diz para si mesmo: parece que começou a chover.
Sai para a chuva como quem sai para lavar a alma, suja de sal, pois que regada com lágrimas salgadas da desesperança.
Deixa-se molhar. Deixa-se encharcar. E com o corpo e a alma molhados deixa-se regar, inundar seu jardim tão seco.
E deixa minar todas as angústias, sofrimentos, avivar as cores embotadas da alegria até sentir um transbordamento de si mesmo, dos queixumes.
Ao longe ouve fogos pipocarem. Meia-noite. Ano Novo.
De alma lavada, desata os nós da lenha. Sim, podia queimar, mas de alegria...
Grita alto as palavras ensaiadas. Que as ouça quem quiser!
Pega a garrafa e beberica.Agora, um gole é o bastante para sentir seu sabor.
Ouve mais fogos. Desta vez dentro de si.
E liberta da gaiola uma dor vivida em vão.Sente renascer em cores o corajoso e destemido pássaro, agora livre, pronto para alçar vôos rasantes ou não!
E decide viver. Decide viver...
Sim, seria novamente um feliz ano novo!

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